sexta-feira, 11 de julho de 2008

HABITANTES - Uma Banda Especial

Da primeira vez que ouvi “Habitantes”, eu não sabia que seria assim, tão para sempre. A canção que primeiro me arrebatou e eu me lembro muito bem, foi “Hoje teu coração vai depor contra mim”, já pelo título, ganhou urgente a minha atenção e quando a ouvi, a admiração foi total, o seu conteúdo era irretocável, inteligentíssimo assim como sua sutileza, minha nossa, exclamei, tinha encontrado ali, chapado com a novidade, a banda que dentre todas, neste mundo que nem underground chega a ser, seria para sempre a minha banda favorita. Logo em seguida, o tiro de misericórdia, a canção “Torres Gêmeas” era algo indescritível, para ser uma simples canção, tão pop quanto cult.
Tanto as canções quanto a banda são daquelas que nos fazem crer que o sucesso será certo, de certa maneira, assim já o é, visto que não precisamos estar na mídia para sermos bons de fato, pelo menos não nesta mídia de hoje, que feito uma culatra, nos dá a sensação que estar ausente dela é sinal do quanto se vale.

O “Habitantes” não se limita a uma simples banda de rock, é mais, vai além dos acordes e da postura, é poesia pura e desta forma cria em seu entorno a própria conjuntura de ser o que são, sua literatura é permanentemente vigiada pelas mentes, que sensíveis e intelectas, deleta de perto de si, qualquer possibilidade do banal. Com tudo isso, ainda têm a benção de ter o melhor poeta do anônimo como letrista, o nosso “Chico Buarque de Holanda do Rock”, seus poemas são de uma linear e ímpar magnitude, de uma doçura e ao mesmo tempo de uma verve de ferver os sentidos, que nos envolve com uma tal consistência que seria capaz de chamar a atenção de um abajour! Só por isso o “Habitantes” já sai na frente! À Henrique Enzo, todo o meu respeito e admiração.

As referências musicais e culturais da banda, são o bojo que faz dos “HABITANTES”, UMA BANDA ESPECIAL. Os Habitantes são especiais porque são bons no que fazem ou são bons no que fazem porque são pessoas especiais? Bons de papo e de amizade, simples, humildes e verdadeiros... (acho que chega!) Eis o seu legado. Cultos, simpáticos e excelentes músicos, sabem o que têm nas mãos, sabem para onde vão. Suas letras e o seu conteúdo floreiam e perfumam a sua música que de volta emoldura a sua poesia, o casamento perfeito! (ou seria ao contrário?). Nos Habitantes tudo se encaixa, o cuidado com as canções beiram ao exagero, mas vale a pena esperar, são estudiosos do ofício, dado ao sonhos, como se deve ser e maduros com a realidade como não se pode deixar de ser.

Enquanto escrevo, ouço Habitantes; enquanto espero, viajo com os “Habitantes” ; e bem sei que se esses meninos tivessem uma única chance, o rock inglês iria se contorcer de inveja.

ESTRANHEZAS

P/ João Roberto



A violência me pegou
Dentro de casa!
Com as portas trancadas, janelas fechadas
No automóvel imóvel, parado
Sem blindagem, num ataque!
Apenas no silêncio vazio
Como num quarto sozinho, solitário
A mais profunda solidão
De repente
Do nada!
Esse oco vazio que descobrimos na vida
Este buraco negro
Dos acontecimentos mais atrozes
A estranheza da própria existência...

A exigência de uma paz urgente
Que urge infinita e mal distribuída
Impossível para dias atuais

De repente um nó na garganta
Uma secura na alma
E o nada!
De repente o medo e o desgosto
O oposto do que sou...