terça-feira, 6 de outubro de 2009

A MORTE DO BANDIDO E DA CONSCIÊNCIA

Aplaudimos a morte do bandido, mas não deveríamos. Por mais que supostamente merecesse a bruta condenação, mais caótica que a decisão de matá-lo, mais deprimente que o seu boné (e cabeça) estraçalhado pela munição certeira do excepcional atirador de elite, mais horrendo que tudo isto, foi a reação da platéia, dos populares eufóricos com o desfecho da cena cinematográfica. A sociedade anda tão acuada e desprotegida, que começa a reagir da forma mais doente que existe, a doença da qual começa a sofrer é a mesma doença que ela sempre condenou. A desumanidade no bandido não é diferente da desumanidade que aflora em nós agora.
O ato da ação/reação do cumprimento do dever, do último ato como forma inevitável de solucionar o problema, considerando os riscos que corriam, tanto os agentes quanto a vítima, e que o bandido, de apenas 24 anos de idade, estivesse prestes a explodir uma granada que trazia consigo, o perigo eminente, enfim, - eu poderia dizer que nada justificaria o feito fatal e vir com todos aqueles argumentos sobre direitos humanos - mas não é disso que falo; a decisão tomada pelo comandante deve ter sido competentemente pensada, no exercício do seu dever, ele, com toda sua autoridade e experiência fez valer a sua destreza e competência, contudo, o ato de tirar uma vida humana, por mais vil que esta seja e “mereça” , deveria no mínimo, ser um ato de tristeza e lamentação, ou melhor dizendo, a reação referente a este ato. – Não havia jeito, o bandido empunha um granada, atentava contra a vida de terceiros, punha em riscos a sociedade - mas não, o que vimos foi alegria, entusiasmo, foi como se estivéssemos descontando o placar adverso, os gols sofridos, as balas perdidas, só faltou a galera correr para o abraço, levar o artilheiro da equipe nos ombros e levá-lo para a volta olímpica, aliás talvez não tenha sido assim porque simplesmente o especialista não deu as caras, estava escondido, como deve ser, mas não me espanto se nas próximas 24 horas nosso herói não virar um astro de TV, em sucessivas entrevistas sem fim, o que será outro sintoma dessa nossa nova doença, a desvalorização da vida humana; e mais a super exposição dos fatos, a cena sendo mostrada o tempo todo na TV e na íntegra, para quem quisesse ver e guardar, inclusive as nossas já tão expostas criancinhas, sem falar do “loucutor” dizendo que “está é a vida real”, lutando cinicamente por mais alguns pontinhos no Ibope. Tudo isto só me faz temer, não só o bandido morto, como também os tantos outros que existem vivos, e também, é triste dizê-lo, a nossa própria sociedade.
A frieza e a aceitação com que foram vistos e celebrada aquelas cenas de verdadeiro pavor, nos indicam que o menor dos problemas não são os riscos que corremos, tão corriqueiramente hoje em dia, mas o perigo que começamos a representar a nós mesmos. Estamos enlouquecendo.