segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O MAU GOSTO ESTÁ TOMADO CONTA DO MUNDO!

Ando desconfiado de mim mesmo, ando observando mudanças noutro sentido, mudanças sutis de interesses reais e coletivo, quase uma alienação, coisas que não mais percebemos, quase um fascismo disfarçado. A mídia é medonha, arteira, as pessoas, pior ainda. As crianças livres demais para serem apenas crianças, assistindo e consumindo coisas de gosto duvidoso, todo tipo de acontecimentos, reais, surreais, televisivos, programas bobos, ofensivos demais com conotações sexuais e brutais, violência explicita, levadas pela ótica da nossa juventude, mente adentro.Vejo-me também sendo vítima dessas coisas escusas, horrendas, medonhas, execráveis. Porque será que agora sem mais nem menos, tenho preferido o futebol sem os repórteres? Por que agora prefiro filmes proibidos a qualquer outro mais sério?! SEM FALAR DOS REALITY SHOWS DOS QUAIS DETESTO E TENHO UMA OPINIÃO FORMADA. E por que será que JÁ ME PEGUEI ALGUMA VEZES na sagrada cervejinha num ambiente qualquer muitomai feliz que com interessantes pessoas? Por que será que quase nenhuma noticia,por pior que seja, me deixa chocado, por que será que agora voltei a vibrar, mais que de costume, com o gol, que com certas realidades; que certas atitudes não fazem mais tanta diferença e a minha ambição (pelo dinheiro, tomou lugar de algumas outras ilusões?!Não faço mais questão de assitir ao jornal ( estou farto! nem apar de todas as notícias que antes tanto me interessavam (A vida não muda mais)), nem me incomoda mais tanto assim. E torço que a novela esteja boa mas que termine logo se for dia de futebol, e se não for, que os dias passem voando (por tudo o que realmente deveria importar). A vida até parece uma festa! O mau gosto está tomando conta do mundo!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A MORTE DO BANDIDO E DA CONSCIÊNCIA

Aplaudimos a morte do bandido, mas não deveríamos. Por mais que supostamente merecesse a bruta condenação, mais caótica que a decisão de matá-lo, mais deprimente que o seu boné (e cabeça) estraçalhado pela munição certeira do excepcional atirador de elite, mais horrendo que tudo isto, foi a reação da platéia, dos populares eufóricos com o desfecho da cena cinematográfica. A sociedade anda tão acuada e desprotegida, que começa a reagir da forma mais doente que existe, a doença da qual começa a sofrer é a mesma doença que ela sempre condenou. A desumanidade no bandido não é diferente da desumanidade que aflora em nós agora.
O ato da ação/reação do cumprimento do dever, do último ato como forma inevitável de solucionar o problema, considerando os riscos que corriam, tanto os agentes quanto a vítima, e que o bandido, de apenas 24 anos de idade, estivesse prestes a explodir uma granada que trazia consigo, o perigo eminente, enfim, - eu poderia dizer que nada justificaria o feito fatal e vir com todos aqueles argumentos sobre direitos humanos - mas não é disso que falo; a decisão tomada pelo comandante deve ter sido competentemente pensada, no exercício do seu dever, ele, com toda sua autoridade e experiência fez valer a sua destreza e competência, contudo, o ato de tirar uma vida humana, por mais vil que esta seja e “mereça” , deveria no mínimo, ser um ato de tristeza e lamentação, ou melhor dizendo, a reação referente a este ato. – Não havia jeito, o bandido empunha um granada, atentava contra a vida de terceiros, punha em riscos a sociedade - mas não, o que vimos foi alegria, entusiasmo, foi como se estivéssemos descontando o placar adverso, os gols sofridos, as balas perdidas, só faltou a galera correr para o abraço, levar o artilheiro da equipe nos ombros e levá-lo para a volta olímpica, aliás talvez não tenha sido assim porque simplesmente o especialista não deu as caras, estava escondido, como deve ser, mas não me espanto se nas próximas 24 horas nosso herói não virar um astro de TV, em sucessivas entrevistas sem fim, o que será outro sintoma dessa nossa nova doença, a desvalorização da vida humana; e mais a super exposição dos fatos, a cena sendo mostrada o tempo todo na TV e na íntegra, para quem quisesse ver e guardar, inclusive as nossas já tão expostas criancinhas, sem falar do “loucutor” dizendo que “está é a vida real”, lutando cinicamente por mais alguns pontinhos no Ibope. Tudo isto só me faz temer, não só o bandido morto, como também os tantos outros que existem vivos, e também, é triste dizê-lo, a nossa própria sociedade.
A frieza e a aceitação com que foram vistos e celebrada aquelas cenas de verdadeiro pavor, nos indicam que o menor dos problemas não são os riscos que corremos, tão corriqueiramente hoje em dia, mas o perigo que começamos a representar a nós mesmos. Estamos enlouquecendo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"EU NÃO SEI O SEU NOME" - À pureza perfeita e absoluta de ninguém

(Parte do meu novo livro)

Quando jovem o futuro era meu, e na sua moldura eu era música; o céu, um sol o tempo todo a brilhar. A música sempre nos acompanha, é verdade, mas só os puros de alma conseguem ver dentro dela - como nos olhos da mulher amada - um conforto melhor, um alvoroço que a alma ascende e transcende e então começamos a ver coisas, imagens do inconsciente e lá nos vamos, pensando-se poeta. Assim, fiz-me em turbilhões de sonhos, um moço tolo que acredita em sonhos! Fiz algum relativo sucesso entre os anônimos como eu, comi mulheres, li bons livros, descobri pessoas, aprendi sobre a vida com poesia, arrisquei como bem quis e pude, paguei pra ver, enquanto a vida ao lado, ao mesmo tempo que me sorria, passava distraída, mas eu notava suas nuances, e como era bom, me deixava ir, achava que a solidão era uma invenção dos que não têm criatividade, mantive uma certa relação de distância com o tal do dinheiro, mola de uma humanidade materialista, me distanciei dessa realidade, estava certo que daria certo meus investimentos abstratos, socialistas e poéticos, dei de escrever poemas, publiquei algumas páginas e novamente por conta da arte, me via feliz.
O tempo passou como tudo passa, criei asas e afoguei as mágoas de amores, finanças e incompreensões, na danada da cachaça; a gente fica forte para muitas coisas, mas para outras somos um completo desastre, acumular riquezas, no meu caso, é uma delas, não da alma, mas do corpo, que inexorável, padece com o tempo e padece de tanto que apanha. Por uma ou duas mulheres, morri mais que devia, desvirtuei o caminho, daria certo por onde ia!? Mas todo caminho é um ninho e a nossa casa é o cada dia que nasce e morre todos os dias em direção ao sol, lá me ia então sem proteção nem documento. Tudo era sonho, tudo é sonho que a gente acorda no final, e quem sonha é quem dorme, e quem dorme passa do ponto, num misto então de sucesso inútil para as coisas do mundo e um fracasso irônico na receita dos homens comuns, foi quando descobri que não me importava tanto com resultados, como se fosse uma resposta aos meus críticos, um dar com ombros para o que os outros pensavam e achavam de mim e do meu caminho, “não devo nada a ninguém” cantava por aí. Eu queria era viver, nada mais. E assim fui. Traçava planos, e quando chegamos ao ponto de traçá-los é porque estamos ficando para trás. Então, determinei que se até aos trinta minha música não ganhasse o mundo, trocaria de ritmo, aos quarenta já era, ou ainda era, um músico sem rumo e sem mundo, mas ainda astuto, tentava agora com a esperança não mais com sonhos, a última cartada, mas a última cartada sempre dura mais que um simples lance, às vezes o resto da vida; mas havia decidido, aos quarenta haveria de recolher os louros e o frutos do meu sucesso (fiquei com o fardo), levava fé que seria um roqueiro cultuado e então assim pararia com tudo, tem artistas que não se emendam, passam do tempo, não se renovam, se perdem e morrem em vida; comigo não, mudaria de rumo e surpreenderia meus fãs, me entregaria aos prazeres da fotografia, algo de que gosto muito, assim minhas imagens, antes sonoras e verborrágicas, dariam lugar às imagens que faria sobre as impressões do mundo, e por fim, lá para os sessenta, setenta, estaria apto para o que de fato nasci: escrever, escrever, escrever, algo que faço desde que me conheço como gente, voltaria à literatura até o fim, até desfalecer para renascer nos braços da memória do tempo...

E antes da morte chegar, tomaria o meu último e homérico porre de whisky, numa celebração a tudo que vivi e não conquistei, a tudo que ri e não dancei, à tudo que conquistei, mesmo sem querer, à todas as mulheres e amigos, saudar essa oportunidade magnífica que é a vida em si.
Um brinde! Um brinde apenas, um brinde...

E o cálice caíra lentamente de minhas mãos no deserto da praia mais linda e a água me arrastaria o corpo e o mar me engoliria por completo... O ciclo da vida! Virar comida de siri e tubarão! Há! Há! Há! Há...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

ÀS PESSOAS QUE SIMPLESMENTE SÃO FELIZES!


Agora que já temos idade podemos optar pelas coisas boas da vida? Para se viver bem, música!? Mas qual a melhor música do mundo para mim ou para você, ouvir e se ouvir?
A gente vai descobrir, porque numa hora ou outra a gente sempre descobre, desenvolve as percepções, mesmo que alheias.
Uma boa bebida também seria conveniente à alma, seria conveniente à cabeça e o corpo agradeceria. Saber escolher! Mas se não nos preparamos para isto, como chegaremos lá, agora?!
Por essas e outras é que se mostra necessário aguçar os instintos, em época como esta, há de se lutar, mesmo que em silêncio, não importa, por uma vida melhor e dar-lhe uma atenção maior, mesmo que de soslaio, para a sua magnitude, a altivez da vida, e das ações de outros seres e pessoas, mesmo que não se goste disso ou daquilo hoje, mas amanhã quem sabe?! Preste atenção devida e reconsidere aquilo que, mesmo contra a sua óbvia percepção e vontade, lhe pareça digno e bom, que de alguma forma lhe aguçe a curiosidade. Um bom filme, por exemplo, - preste atenção no que diz o mundo -, quantos já tentou assistir?! Quantas vezes já se deu o trabalho de ler ao menos sobre?!
Mas se preferiu assistir apenas filmes superficiais, sem expressão, bobocas até, de ação sem conteúdo, realmente vai ter que pagar por isso. A educação que se adquire ao longo da vida, muitas vezes é uma opção que fazemos e que buscamos ou que simplesmente ignoramos. A gente sempre acaba por pagar por tudo na vida. Se não fizermos por nós, quem poderá fazer?! Quem o fará?! Assim tanto o cinema quanto os livros e até mesmo certas amizades, poderão traçar e decretar a linha tênue que são as nossas escolhas por vias de nossas influências, entre o consistente e o efêmero, e que nos serão de grande valia para o nosso insuspeito e delirante futuro e presente tão igual. Sem que se perceba, você evolui simplesmente, ainda que muitas vezes á pesados custos de tempo e força, basta para isto fazer boas ou más escolhas.
Prazeres e entretenimentos são açucares, muito bom e gostoso, mas cuidado com a diabetes, entende?!


A vida é para ser vivida de todo o modo! E bem melhor que seja divertida, isto é qualidade de vida; contudo isto requer que usufruamos da inteligência, e não a abneguemos, o que é muito importante. Seja como for, o que for, seja o que você for, pois cada um é o que é, sem poder ser o que não é, e sem querer ser pretensioso – longe de mim - devo dizer que tanto a nossa vida quanto o nosso tempo são pedras valiosíssimas para serem somente avaliadas, cuidadas e consideradas no fim. É uma pena que a maturidade demore tanto a chegar, mas também não importa muito, desde que chegue. Contudo, é bom que se saiba, a maturidade sem boas experiências, só nos deixará um pouco mais chatos do que já somos.
É preciso que se descubra e se entenda sobre os prazeres que há na vida. Há prazeres bobos, superficiais, e existem os valiosos, feito pedras preciosas, escondidas, que temos que descobrir. Descobrir que podemos ser felizes deveras, leves, independente de tudo e sempre, sem stress, - a leveza da vida -, mesmo que sem cultura, mesmo que ainda em força bruta, porque não é disso que falo ou critico, apenas pondero sobre a vida, sobre as coisas boas que nela há, que muitas vezes sequer sabemos ou alcançamos, quiçá usufruímos.



Vamos beber um bom vinho? Escutar uma boa música! Bater um bom papo! Mas o que é isso afinal?!

A VIOLÊNCIA É QUE MOVE O MUNDO!






A violência move o mundo
Todas as guerras num segundo
O que vem depois do muro?
Qual o intuito disso tudo?

A violência fomenta multidões
A violência e suas mutações
A história desde do princípio ao fim dos tempos
De Darwin à Cristo, de Cristo ao contemporâneo
Todas as chagas do tormento humano!

A força violenta e bruta de todo ser humano
A violência que germina por todos os cantos

A violência que muda o mundo e transforma
Que move os povos e transcende
Que salva o mundo e mata e depois esquece

A violência que muda de geração em geração
Mas que nunca cessa
A violência que aquece o planeta terra

Suas revoluções, seus carmas e evoluções
Sua involução, sua dispersão
A violenta descoberta até ao Amor desperta
Suas paixões! Suas paixões!

Movimentos de massa
Guerras que nunca passam
Movimentos autênticos de violentas ebulições
A violenta desonestidade de certas ações
A violenta verdade em certas canções

A guerra do próximo século
A guerra do fim do mundo
A guerra que recomeça
A guerra de outros mundos

Não é a paz que fomenta o mundo
Não é o homem o fim de tudo
A violência é que move tudo

A violência do sentimento
A truculência da história
A paixão acesa das palavras
A força que ergue uma casa....
A violência!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

VIDA DE CÃO e o CÃO DE GUARDA !


Foi-se o tempo em que animais domésticos, pássaros silvestres, insetos incomuns, minhocas, faziam de uma hora ou outra, sublime o instante da magia e do encontro e quando este momento costuma a se repetir, mesmo que por acaso, adotamos para nós como mais novo vizinho e em casos mais particular, como nosso amigo ( muito normal com cães e gatos), essas doces e adoráveis criaturinhas de Deus. Mas desta vez tudo mudou.
Todos os dias ele me olha, prostrado quase em frente á minha casa, na rua por onde passo e moro. Ele me olha de soslaio, vazio, fingindo que me ignora, sem emitir um som sequer, e de repente some, vai embora, ressabiado, me olhando de lado, pelos cantos dos olhos de ressaca, examinando tudo à volta, como se fosse um E.T. Noutro dia, num frio danado e ele lá no seu posto, de orelhas murchas porém atentas feito um morcego. Mal protegido da noite e de sua friagem, com os olhos cerrados e vermelhos; teve uma vez que arrisquei um “bom dia/boa noite” e nada, parecia um boneco, um bicho do mato. Ele não se aproxima de ninguém, não confia em ninguém, apenas observa assim como eu, não conversa, não sorri, apenas existe, vegeta, igual a um cacto ou um cogumelo, é triste, sonolento e sagaz, dono de uma animosidade que não dá conta. Magro, franzino, sisudo, escravo de tudo, da vida, da dívida, do que se meteu. Todos os dias ali, de prontidão, feito um cão de guarda, apodrecendo com o tempo precoce dos que não sabem usá-lo melhor. Sempre olhando ao redor, as sombras, os becos, além. Olhando nossas vidas, esquecido de si, atento a tudo, a nós, ou ignorando-nos de fato, não sei, mas firme no cumprimento do dever, da dívida, da sua coragem e medo. Uma vez tive a impressão de vê-lo assustado, reclamando do frio e da fome, quase lhe estendi a mão, mas houve receio, desconfiança, descaso mórbido, desesperança, desespero silencioso do medo do outro. Ele não faz “mal” a ninguém, pelo menos diretamente ou por enquanto, me atrevo a dizer.
Quase 24hs ininterruptas de prontidão e contudo permanece ali valente, integralmente concentrado com suas correntes e algemas invisíveis, sujo e inalcançável, sozinho.
Poderia ser um gato imundo sem casa, um cão sem dono na sua vida de cão, um macaco que fosse, mas não, nada disso. Era apenas um ser, um Zé, um ser humano incrivelmente igual a qualquer um, um menino em outra época, um desalmado nesta, um homem torto, um vapor, barato imagino, sem roupa nem sapatos, quase um indigente, olhando sem aprender, aprendendo mais que todo mundo sobre a dor e a solidão, olhando para gente como se fosse alguém que ele (não) sabe que não é.
Não há respeito nem elos ou princípios, que possa possibilitar algum indício de civilidade ou caminho de volta, ele apenas apareceu ali, está ali, estático, no nada, do nada, como se germinasse do chão de asfalto sem vida, sem pão ou comida, sem destino nem lamentação. Da minha janela o vejo em paranóia constante de uma comportada disciplina ausente de sentido, incomodando a despistar.
Em frente a minha casa agora mora, se hospeda, trabalha , vigia, vive e transpira um traficante! Sutil, reconheço, mas um traficante. Ninguém fala com ele, ele não fala com ninguém, apenas espia, observa e se comunica com alguém distante pelo rádio enorme que carrega à tira colo. Ninguém lhe oferece ajuda ou lhe estende a mão, que talvez ele não queira nem faça questão. Também pudera, o medo e o preconceito são juntos fortalezas intransponíveis, noutros níveis de aceitação.

Os moradores não o temem mais, saindo pela manhã bem cedo, na primeira hora do dia, chuvoso ou calorento, e ele lá aceso, sempre de prontidão. Todos voltando bem tarde do trabalho e ele ainda lá, sempre aceso de prontidão, sem cartão para bater...

É mesmo como um animal talvez, ninguém sabe de onde veio, porque vive, pelo que sonha, se sonha, ninguém sabe se é mesmo bravo, brabo ou manso, se pode, se quer, ou não quer ser ou ter amigos na sua puta solidão de bandido, encalacrada de domínio sujo e escravidão inevitável agora.

Daqui a um tempo provavelmente, poderemos ter notícias do seu sumiço repentino ou simplesmente não quereremos saber e ignorá-lo na poeira da vida, na decadência do mundo ou então odiá-lo como sabemos fazer, odiá-lo de vez por sua crueldade vinda á tona, expostas numa página de jornal ou nas palavras das lendas e boatos ditos e nascidos á todo lado e instante, será a coisa mais fácil do mundo.
Enquanto isso, ficamos ao léu sem saber como poder ajudar, sem ser ajudado; e o Estado ausente como sempre, poderá em algum dia fútil, jamais saber da falta que nos faz, prestando contas de sua incapaz sensibilidade para com seus cidadãos, através de um frio boletim de ocorrência ou se fazer fantasmagoricamente presente, indiferente, pelas manchetes dos jornais.

Só não poderemos jamais saber se é tarde demais para nós...ou para ele.

terça-feira, 26 de maio de 2009

BORDÉIS DOS DIAS DE HOJES

Vivemos num mundo tão conturbado, que mudanças de hábito não são mais sequer percebidas. Para ir direto ao assunto, nestes tempos, agora convivemos, deliberadamente, com jovens, moços e moças, que divulgam através de panfletos, pelas ruas da cidade, em plena tarde de verão, a proliferação, sem nenhum pudor, da prostituição coletiva e comercial. Eles nos estendem as mãos e oferecem seus panfletos coloridos, com fotos de mulheres nuas que nos ofertam seus dotes a serviço da profissão, com endereços explícitos dos bordéis dos dias de hoje, que não se escondem mais, como quem vendesse um produto qualquer, livremente na feira, despudoradamente, tranquilamente, distribuindo-os como se fossem cartões de visitas.
Mas dessa vez alguém repudiou o ato, recusando-se a receber, por educação ou pudor, a tal folhinha.
- Não, obrigado, meu filho!
Mas diante da insistência do rapaz – e muitas vezes, de mulheres – o senhor vociferou: - Sou casado rapaz! E você deveria ter vergonha...
No que veio a inesperada contra-reação do rapaz. O jovem não entendera que ali ia um homem de bons costumes, digno, fiel à sua esposa e aos princípios, respondendo em alto e bom tom à recusa do ‘cliente’: - Ih! “sou casado” háháhá! Pois fique o senhor sabendo, que o que mais temos lá na casa, são homens casados! - Parecia orgulhoso de dizer - Tá por fora titio - ainda zombara – O senhor não está me dizendo nada; o que tem se é casado?! Seu Mané!
O homem ficou estupefato. Uma total demonstração de seqüela mental, uma discrepância horrorosa aos bons costumes e aos bons valores, um total desrespeito ao próximo e aos mais velhos e à dignidade humana. Uma completa inversão de valores encrespada na cabeça dos jovens que não conseguem sequer, discernir o certo do errado, o respeito do desonroso e que, sem opções, pensa que tem escolhas, e o que é pior, não percebem a profundidade de nada, muito menos do poço de ignorância a que estão atolados e submersos.
Pobre juventude, pobre humanidade. Sem mais dúvida alguma, a sociedade está deveras doente. Doente, muito doente.
Uma constatação desta triste realidade? Pessoas ao redor, riam do que viam!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

FRAGMENTOS




(...) Passava horas no Studio sozinho, dava cinqüenta paus para o dono e ninguém me aporrinhava ou me encontrava por algumas horas sagradas para mim, a solidão do som. Levava a minha guitarra Rickenbaker, uma garrafa de uísque, alguns maços de cigarros e outros cigarrinhos infalíveis de maconha, ligava a bichinha no máximo e ficava solando e cantando dissonante durante todo o tempo só, trechos infindáveis de um mesmo solo ou riff, de canções que conhecia, aleatoriamente. “I can get no, satisfaction...” repetia dez, vinte vezes seguidas, às vezes quinze minutos de uma mesma música, de um mesmo trecho, bem alto, estridente, doses de uísque quente, suando feito um porco, exorcizava todos os meus males e meus demônios e mais os medos e alucinações que a realidade faz arder ao sol , me sentia um Kurt Cobain, entre gritos e levadas viscerais, sem ninguém para constranger, assistir, restringir ou ser criticado, sem ninguém para ouvir ou interferir, sendo eu pelas avessas, pela tripas, pelo estômago, o meu âmago, surto, solto, violento, sem medo e só, sem ninguém para me interromper, eu era a minha própria angústia sem medo e mais bonita, vomitada em formas de notas musicais dissonantes e versos estúpidos initelegíveis e nervosos do rock meu, do meu punk e de minhas autorias inventadas ali, na hora, no estalo, exorcizados pelo instinto. Certa vez me acompanhou a cocaína, noutras a loucura da raiva. Quando abriram o Studio estava caído sobre o tapete rubro e sujo, caído sobre o vômito, feio como uma estrela do rock, feito um mito, um mijo, um Zé ninguém, babaca e sonhador, “imortal”. Nunca mais me deixaram entrar, não sozinho, todo modo, nunca mais voltei. Pulava, saltava, me largava no chão, antes da overdose, ficava em silêncio, urgia, orgia verbal e solista, me tremia como um doente, apagava as luzes até recuperar a voz e o fôlego. Lia poesia em voz alta e tremida, com raiva, com ódio, sem ninguém para me escutar, me encontrava com deus, saía outro, eu e minha guitarra estridente e desafinada, para nada,, fora de uso, fora de foco, eu e minha guitarra veloz, feroz, furiosa, confidente, sem saber falar, sem saber tocar, urgindo para o mundo dentro de mim, e mais as garrafas, os maços vazios e a cabeça vazia, a vida renovada na guinada forte e honesta do instrumento, a voz, as cordas, o corpo...até ficar surdo, até quebrar, até ficar imune, transcender, beber no gargalo a vida amarga e crua. Um dia estava com um revólver ( não, não era o disco dos Beatles, era um revólver de verdade), um 38, um três oitão, velho e destemido, que um amigo esqueceu comigo certo dia e demorou para pegar de volta, levei para o Studio, só para compor o clima depressivo que eu gostava de criar, outras vezes papelotes de cocaína que eu jogava avanço para mim mesmo, empoeirando todo o ambiente, aí foi o fim, quase morri. Não me mostrava para ninguém, apenas tinha alma saturada de poesia, soul e rock´n´roll, como diz uma linda canção de Caetano, “O homem velho”. É que às vezes “falta velocidade aos nossos olhos de prata, falta velocidade aos nossos desejos ociosos... De repente você encontra linhas amargas naquelas doces cartas...”


(Entre aspas: frases de duas canções da banda Habitantes)
* trecho do novo livro de Nem Queiroz " Eu não sei o seu nome! - à pureza pefeita e absoluta de ninguém"

ARTISTAS & COVARDES


E a cena não mudou. Passaram-se os anos e nada mudou, aliás, mudou sim, mas para pior, é que a sensação de que tudo já era tão deprimente, horrível e decadente, permanece simplesmente. Penso que a culpabilidade do ostracismo vigente da cultura nacional, não é tão somente das gravadoras, editoras, televisões e mídia em geral, penso e me arrisco a dizer que os artistas já consagrados, têm uma grande e enorme parcela de culpa nisto tudo, pois acho que eles deveriam ser mais engajados na luta, mas não são, seriam eles quem deveriam ter maior interesse de que a cena se perpetuasse, que se renovasse, indicando e até trabalhando para que pudesse haver passagem para novos artistas e que estes juntos com eles pudessem ao menos prosseguir com a cena, o que existia antes mas que agora não mais acontece. Então de quem é a culpa, se eles poderiam fazer e não fazem e os que querem muito não têm o mínimo de chance? Quando vejo artistas famosos divulgando seus novos trabalhos de uma maneira quase egocêntrica e egoísta, sem se importar com o próximo, por assim dizer, digo que estes são os verdadeiros responsáveis pela pobreza que nos cerca também, pois já que são eles os cabeças de rádio e tem à mão o público e a força de opinião, por que não convidam as bandas que estão lutando para mostrar os seus trabalhos? Por que eles não tomam as rédeas da situação e reacende a discussão, fomenta a cena, não a deixa morrer?! Porque não levantam bandeira contra as rádios e TVs e mais os jabás que envenenam nossa verdadeira cultura e vocação? Porque são covardes e omissos ao ponto de depois vir posar de bons homens cultos e preocupados com a vida cultural do povo, sem se dar conta do que querem de fato? O querem mais e tão somente é vender seus discos e shows, se assim não são, ao menos é o que parece. Sei que cada um deve cuidar de si, mas a música e a cultura em geral deveria unir, não separar, segregar os irmãos artistas é no mínimo algum tipo de fascismo. “Somos os bons, os outros é que se virem para provar o seu valor”, tudo bem se houvesse democracia de mídia neste país, e todos sabemos como funciona. Então?! Vamos ficar todos de mãos atadas ou braços cruzados e deixar que a grande mídia produza sempre em larga escala produtos descartáveis e banais, para o consumo dos iletrados?! Na verdade, nossos artistas não movem uma palha para salvar o seu próprio mundo, só pensam em salvar seu próprio umbigo e bolso. Tudo bem, isso é assunto para os empresários, mas estes morreram faz tempos, as gravadoras e caçadores de talentos não existem mais, até porque não dignificavam mesmo tanto a cena. Acho que estes grandes medalhões da música e do rock nacional deveriam fazer alguma coisa em prol destes novos colegas de profissão, que agonizam no anonimato, concordo que há muita porcaria, mas há também muita coisa boa por aí, no Rio, em são Paulo, no rock, no blues, nos subúrbios. Por que não acontece deles chamar essas novas bandas para abrir os seus shows, apadrinhar mesmo, se for o caso, qualquer uma delas que julgam ter algum valor, ou será que nenhuma, mas nenhuma mesmo tem valor algum?! Eles mesmos reclamam da nova cena amorfa, mas não fazem absolutamente nada para mudar o cenário, do qual fazem parte, são omissos, quase covardes. Artistas de todo o mundo uni-vos!


Ps.: Não isento os jornalistas, críticos de música e também a grande massa. “Para que o mal triunfe basta que os bons não façam nada!”ok!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

OS FILMES


Tenho em casa quase uma centena de filmes, tenho uma obsessão louca por filmes, principalmente os chamados alternativos, fora do circuitão, por conta disso, vivo à catá-los em lojas, em promoções, em sebos, na casa de amigos. Minha paixão é tão imensa que muitas vezes eu não preciso nem assisti-los, basta tê-los, adquiri-los, encontrá-los, para ansiosamente pegá-los para mim. Tanto assim o é, que vários deles descansam ainda no plástico, acomodados na minha estante, não tenho muito tempo para curti-los, assisti-los, mesmo porque revejo muito os que já vi e nem tenho pressa para ver um novo filme, só porque ele é novo, preciso apreciá-los como merecem. Na minha opinião, é preciso tempo e clima, só os assisto quando quero mesmo assisti-los, quando encontro clima, quando algo os sugerem ou alguma coisa ocorre e me remete a este ou àquele, aí sim, passo em revista, posso vê-lo em paz e sossegado, com a consciência livre, atenta e voraz, do contrário, eles que aguardem a sua vez. Por isso, encontrá-los é um exercício, e adquiri-los é mais importante que simplesmente vê-los de imediato, como quem abre um presente ou uma compra, isso seria consumismo apenas. Preciso estar a fim e à altura, inclinado a eles, para reverenciá-los da forma mais concisa, e não apenas descartá-los depois de assisti-los para não saber deles tão cedo, eles são como uma conversa ou um livro para mim, a qualquer instante posso invocá-los, como uma pessoa que não é descartável, eles são muito importantes para mim e não como uma mera sessão da tarde, preciso estar apaixonado, por assim dizer, para que possa haver o devido respeito e o real entendimento por aquilo que procuro e me desperta. São meus livros vivos e em movimento me esperando na estante, são as janelas do avião que me transporta e me leva pra outras realidades e fantasias, onde me educo, onde me encontro; me orgulho muito de cada um deles , pois são esperados e escolhidos a dedo, com eles me emociono e me envaideço, são meus amigos mais leais; quando alguém cita um título e eu posso dizer que tenho, é como se alguém falasse sobre alguém famoso e boa praça e este alguém fosse meu amigo íntimo. - Sim, eu o conheço! Mas que prazer!!!
Para muito além de uma vaidosa exposição, devo dizer que preciso tê-los ali comigo, para que num dia, se o meu amadurecimento sentir a necessidade da evolução sobre um determinado assunto ou tema, que algum filme contenha e possua, eu possa tranquilamente desfrutar. Os livros e os filmes são a minha salvação!

segunda-feira, 30 de março de 2009

O CACTO!

Há dias que não se encontra ânimo para nada. Dias assim é como uma garça em alto mar sem pouso. Eles têm razão. Será que por isso, em dias assim, eu me sinta tão triste e desassossegado, feito um cacto no deserto, que ao invés de espinhos, tem e vive um tremendo mau humor?! O meu mau humor são os meus espinhos! É isso?! Não se aproxime então, não chegue perto, pois mesmo que eu te queira bem, posso ainda te magoar, mesmo sem querer te machucarei, acho que o cacto é triste porque ele não pode abraçar ninguém, e eu que nunca tenho ninguém para abraçar? Acho que vou abraçar um cacto, que é um dos meus. Eu sou um cacto de vazio imensidão, um monstro de tanto tédio ao redor! Eu não me suporto nessas horas, você me entende, agora?! Cadê os meus cigarros, ah, cadê?! Puta que pariu, sem cigarros! Vamos à bebida, então. Um pilha de nervos, gosto do azul, mas está tudo cinza, gosto do cinza também, gosto das cores, principalmente as dos drinks que faço. Porra, que solidão!

terça-feira, 17 de março de 2009

A MORTE DO PRESENTE (Um país de segunda)

Somos um país de segunda categoria! Tudo é de segunda. Os discos, os DVDs, as roupas, calçados, bebidas, a polícia(corrupção), transportes, até o sorvete, até o futebol, as relações, os sub-empregos, a educação... Instaurou-se entre nós uma cultura desastrosa e pérfida, escrachada, do quanto pior, melhor! E ninguém se importa com nada e não importa mais quem atirou a primeira pedra. Tudo é solvente, dissimulado, um descaso só. Nossas crianças estão surdas e perdidas, nossas doces e inocentes criancinhas, dançando desprotegidas o ritual antropofágico do futuro submerso no nada. Seus pais cantando sozinhos e felizes a sua desumanização, quase voluntária, dos que na ignorância, fazem coro ao inusitado e capenga estado das coisas. Sons e imagens ( música indecentes e TV mal intencionada) aguçam e proliferam a desordem e a desestrutura conjunta e individual de uma sociedade já hipócrita, pagã e vexatória. Nada mais tem expectativa de nada, nem de um crescimento sadio, nem de uma educação razoável, perdemos o prumo, a direção, os valores, a identidade e a inclinação para as coisas mais sadias; perdemos o parâmetro e nos contentamos com o desastroso e maléfico (no pior sentido) poder da sedução pela sedução do poder, o poder pelo poder, o maldito poder do dinheiro sobre todas as coisas, o poder da mídia em detrimento ao poder da igreja (que também não era honesto), a desestruturação da família, a morte do presente.
Deterioraram-nos até aqui, nossa audição, nossos olhos, nossa mente. Estamos todos contaminados com o vírus frio e mórbido da desumanização em massa.
“As pessoas que tentam tornar este mundo pior, não tira um dia de folga!”

quinta-feira, 12 de março de 2009

O BAR - lugar de encontro de grandes amigos e boas estórias

BAR: “Lugar de encontro de grandes amigos e boas estórias!”

Uma boa definição. Aquela placa solitária na parede, causou em mim um frisson nostálgico e carente, que me fez parar. Voltei, olhei de novo para ela e vi toda a minha vida passando por mim como um bloco de carnaval. A buzina dos automóveis me devolveram a lucidez. Fiquei alcoolicamente emocionado e não me fiz de rogado. Precisava saudar aquele momento, reverenciar aquelas tão sábias palavras. Senti uma enorme vontade de brindar àquela enfática citação. Aquilo era a minha vida. Entrei, pedi um conhaque, depois uma cerveja, acendi um cigarro e quando dei por mim, já eram três os vasilhames, três garrafas solitárias e vazias como eu. Me via sozinho, pensando em amigos de outrora, de como vivíamos, quantas estórias tínhamos e inventávamos, de como aquele local era sagrado para nós, um lugar que não havia discriminação de raça, credo ou cor, que não havia ordem, mas nem tão menos autoridade, que pelo contrário, tinha o dom de unir a quem quer que fosse, um lugar, um recinto, onde podíamos rir, chorar, cantar, contar nossas piadas, sermos sinceros ou falastrões, onde podíamos derramar nossas lamúrias, como numa igreja, a igreja dos bêbados, ou se regozijar com papos idealistas ou meros ou futebolísticos, ariscos, ricos, bêbados ou engravatados, chatos, interessantes, velhos e moços, gostosas ou não, maridos traídos, garanhões assumidos, um lugar de pura satisfação e sacanagem escrachada que o carioca tanto gosta, ou para um papo firme, sério, honesto. Ou seja, um verdadeiro santuário de gente de verdade, viva, acesa. Eu cuspo e bebo; eu falo e fumo; eu cuspo e rio. Tudo desordenadamente lindo e permitido, um caos, um fervedouro, uma democracia, regada a muita cerveja e vida vadia, boêmia e não vazia. Um verdadeiro paraíso terrestre ou um colossal inferno-purgatório onde todos são perdoados de tudo, desgarrados de tudo, livre de tudo, nem que seja por alguns minutos. E o prazer que se tem quando se toma uma estupidamente gelada, não é igual em nenhum outro lugar. Só quem freqüenta sabe.
E aquele gole tinha o sabor inenarrável das conversas ímpares que eu tinha com os colegas e não tenho mais e que era a minha salvação e a salvação de todos. Salve o bar! Viva a liberdade!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A VIOLÊNCIA

A violência é o arame farpado
Da liberdade que nos deveria ser inerente
E que, no entanto, não é.
Que perfura nossa carne feito chumbo
Eu como jumbo todos os dias no almoço nu
De uma realidade sem remédio e doente
Que petrifica nossa alma nos condenando à tristeza
De dias atrozes e sem perdão
Que vai dançando sorrateira de par em par pelo salão infinito da maldade que é a sua casa
Que nos suga as forças feito um vampiro
( que não quer saber )
Ela é má, mais que madrasta
Má! Simplesmente má!
E nos arrasta em sua solidão de pedra
Dura, atroz, a sós em nós difíceis de desfazer
Mesmo depois
Mais gélida que a própria morte, talvez
Mais quente que o inferno, decerto
Que nos mete medo com suas fuças, agulhas e demônios
Ela nos resseca
Desde a boca até o último tormento
Nos mata aos poucos por dentro ou direto mesmo
A violência é um dia de chuva forte de projéteis sem teto
É quando o indesejado está por perto
E nos aperta o peito nos tomando o fôlego e a esperança
Que nos afrouxa os culhões
A violência é perversão
Humilhação de quem faz e de quem sofre
A violência é um porre!
Uma cachaça malvada, que não é boa
Que desconcentra a mente e desgraça à toa
O curso normal das coisas e de tudo
A mais estúpida retórica dos mais fracos
E dos espíritos pesados sem luz ou amor
Semente amarga de frutos detestáveis
A violência é indomável, implacável, sem volta
Alguém que trancou a porta
Riscou o fósforo e acendeu o pavio
Não há mais outro caminho
Vai explodir !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!............

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

SONHEI QUE ERA UM PÁSSARO

Sonhei que era um pássaro entre nuvens de fumaças sem fim, jorradas, misturadas, vinda de um hálito jovial e bom que me fez voar na dimensão exata de tudo o que eu queria ser. Abri as asas e pairei sobre a cidade num mar calmo e lisérgico de meu estado inconsciente e tranqüilo dos que enlouquecem de um sonho profundo, que não tem volta e que não me deixava nunca despertar. E como um pássaro veloz, voei até o mais alto dos cumes, e de lá, numa pirueta sensacional, me joguei num vôo rasante invertido de um corpo que cai em queda vertiginosa e sem precedentes, e quando lá embaixo, fiz um loop com minha asa esquerda me projetando mais uma vez para o alto até cansar. Estagnei o vôo do pássaro, permanecendo parado no ar sobre a enseada com seus barcos à vela flutuantes num líquido neon, gloriosos de vento e paz, desses que batem em nossa face pela janela aberta em altíssima velocidade e atroz.
Mas se eu fosse um pássaro de verdade, para onde iria eu, quando o sol de pusesse e não houvesse mais a luz genial do dia?! Sempre quis saber para onde voam os pássaros quando a noite vem, e apavorado com essa incógnita, ambicionei voltar e surtei!
Disseram-me que eu queria o suicídio, tentando a morte do vigésimo quinto andar, onde a galera toda estava reunida, vendo e ouvindo os discos do The Doors, minha banda preferida. Diziam que eu gritava, com os olhos vermelhos, que eu era o Jim! “Eu sou o Jim!” Eu sou o Jim!” e que por isso queria voar, passar para o outro lado. Havia um exemplar molhado de cerveja e outras bebidas a mais do livro “Fernão Capelo Gaivota”, entre as coisas que eram minhas, o que deu margens para suposições. Mas nada disso! Eu apenas estava feliz ao ponto de me sentir livre(para voar?!), romper para uma outra dimensão, sei lá. Morrer é outra estória que eles jamais saberão. Quero dizer que me sentia muito bem e feliz demais para morrer (morrer? Logo eu?!) e que me deixassem em paz pelo menos uma vez na vida.
Era apenas uma viagem, tão somente, como tantas outras, muito embora todos nós saibamos, que muitas delas, muito das vezes, não tem volta...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A GARÇONETE

A garçonete acanhada e muito tímida, com sua roupa de costume, disfarçada de uniforme, se virava como podia, para atender a “peaozada” suja e tarada no recito em que trabalhava. Desajeitada mas simpática no olhar, sempre acabava esquecendo os pedidos mais recentes e ainda, falava muito pouco. Era meio matuta, apesar de bonita, uma beleza difícil de se ver, com todas essas características predominante. Tinha as ancas avantajadas e me olhava mais que o normal, se apegara a mim por conta talvez de uma brincadeira, acho que a deixei à vontade para ser o que era, dava-lhe bom dia todos os dias e umas piscadelas de vez em quando, que a deixava envaidecida, podia-se notar. Tratava-me melhor que a todos e sempre parecia esperar por mim. Enquanto lavava os pratos, me expiava com o seu sorriso mudo, tal qual moça que tinha chegado à pouco do interior. Coitada, gostaria muito de lhe ser útil, um dia quem sabe! A levaria a lugares fáceis que provavelmente nunca visitara. Ela se deslumbraria, seria presa fácil. Apesar do seu mal jeito, tinha algum jeito, a menina. Quero dizer, era gostosa mesmo, mesmo que não chamndo a atenção. “Merecia um trato!”.
Tomar um sorvete na orla de Copacabana, ir ao cinema, tomar um chopp.
- Ei, menina! Está sujo aqui! E lhe limparia os lábios com os meus dedos safados e a veria tremer com os lábios e com os olhos, num sinal claro de desejo....

A GARÇONETE ( Continuação... )

Depois de três meses de chamego e alguns almoços por conta, ela se daria ao desfrute de cobranças indevidas, roubando a minha paz...
- Eu não te prometi nada, garota!

E ela se sentiria ofendida, só porque se abriu para mim e estivemos em motéis algumas meias dúzias de vezes.
As mulheres trazem e guardam em si, o mistério e o segredo que as mantém além do homem. Acham que têm entre as pernas, tudo o que pode dar a um homem e de fato não estão totalmente erradas. Aquilo que elas e suas mamãezinhas cuidam e guardam com tanto zelo, escraviza e hipnotiza o homem como um cachorrinho farejando a caça, nos doma e nos domina e quando pensamos que estamos por cima, são elas que estão no comando.
A mulher quando é boa na cama, enlouquece o sujeito ao ponto de ele se tornar o seu capacho. Há um outro lado nisso tudo, quero dizer que contudo, elas também não sentem que, ao invés do que pensam(dependendo de como lidam com a situação), entram no caminho da perda do homem que supostamente amam, porque o homem, por mais frouxo que seja, chega uma hora que ele não suporta a submissão, pois a liberdade do homem é mais forte que o tesão que o cega, porque a paixão passa e se não houver amor, benzinho, nada se sustenta. Não há “foda” , principalmente as que já são reincidentes , as que já se deram, que valha aporrinhações diversas e diárias. Portanto, meu nenenzinho, não force a barra, já estou calejado nesta vida. O sexo é bom e muito melhor ainda no início, quando é descoberto, depois é superável.
Ela vai me fazer dizer coisas terríveis sobre a sua existência, ou coisas do tipo, “Não enche minhas bolas!”, “Dá um tempo, benzinho!” ou então me fazer pensar na constatação triste, terrivelmente triste, de que “boceta é muito bom, uma pena que a mulher vem junto!”; e me julgar um crápula e me fazer sentir pior do que sou!
Ela irá se decepcionar de vez, lamentar ter me conhecido e ter me dado assim tão fácil, embora tenha gostado, tanto assim o é, que não me deixa partir. Mas isto também é um outro erro que não se percebe. O sexo e a própria relação em si, às vezes torna-se um vício, uma acomodação sem precedente, que não nos deixa evoluir, que nos manipula e nos mantém presos a um passado ou a um presente que não nos interessa mais. E assim nos tornamos um o inferno do outro. Se tivermos força e alguma coragem, acabamos com tudo, do contrário apodreceremos juntos, estupidamente infelizes.
Ah, benzinho, entenda o que passou. (Seria indigno dizer que o que passou, passou?!)

E eu não mais almoçaria ali, desconfiado, quem sabe, com o que poderia me acontecer, um purgante na bebida, um venenozinho no feijão. O seguro morreu de velho. Vai saber! Melhor é não arriscar!
Será mesmo melhor que tudo fique nesses singelos olhares inofensivos de agora, que no inferno inevitável de depois.

Almocei ali por mais um mês ou dois em intervalos longos de um almoço para o outro, mas nunca tive a oportunidade concreta de viver, para o bem ou para o mau, alguma coisa com aquela pequena adorável, (mas que a comi algumas vezes na punheta, tenha certeza que sim).

- Quanto lhe devo? Perguntei, meio cético.
- Você não me deve nada. Hoje é por conta. Estou indo embora, estou de viagem para minha terra, vou morar com mamãe, de onde eu nunca deveria ter saído - disse-me ela, com uma alegria estranha. Desejou-me boa sorte e foi servir a outro freguês. Não sei por que, mas fiquei com a impressão que havia alguma coisa entre eles. Palitei os dentes, amassei o guardanapo que usei pela segunda vez e o larguei sobre o prato sujo.
Quando ela se virou de volta, eu já não estava mais ali...
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(Parte do novo livro de Nem Queiroz, ainda sem título)

CARTA A MANOEL BANDEIRA - O bicho e o homem


Cuspi no lixo da rua porque o cheiro era insuportável, mas o lixo se mexeu e chamou minha atenção. Pensei que fosse um rato, mas não era; era um cachorro e com ele (o cachorro) havia um homem e ambos cutucavam os sacos de lixo com a mesma fome e concentração, como se disputando os espaços. O homem tangia para longe o animal, mas este voltava sempre persistente e ali continuava firme, da mesma forma que o homem, em busca de algum resto de comida ou coisa que os valhessem.
Há muito tempo atrás, o poeta Manoel Bandeira já falava disso e no poema que escreveu, fora o lixo, havia apenas um elemento, e não era o cachorro. Já naquela época, o homem já se via em tais condições e o poeta se espantava então. Pois hoje lhe digo, meu estimado Bandeira, que o seu espanto continuaria vivo, mais aceso do que nunca, pois que a sociedade e os seus valores só fizeram sucumbir e que o tempo, apesar de outros, não modificou os homens, que continuam os mesmos, piores talvez. E se no seu poema de outrora, o bicho não era um bicho, mas um homem, hoje ambos se misturam ao lixo em que nos transformamos, como se ambos fossem um só.

domingo, 11 de janeiro de 2009

FAVAS CONTADAS


O dia seguinte àquela noitada indiscutivelmente agradável com os amigos, lá estava ele, de “rabo para o alto“, esfregando o chão do banheiro. Da mesma forma como achava plausível um descanso depois de uma semana inteira de trabalho, também não pensava ser justo que sua mulher fizesse tudo sozinha, mas o fato é que não precisava ser daquele jeito, tão polido e urgente, nisso é que ele se contorcia. Se não o fizesse seria como se fosse o fim, e fazer era o fim!
Quer secar o homem por dentro é dar-lhe um casamento. Quer um homem morto, é fatigá-lo até o fim com este mesmo casamento.
Por que não podemos viver em paz na comunhão e na alegria de dizer o que se pensa e se sente, com a harmonia que a relação não deveria jamais perder? Por que não sabemos reclamar com graciosidade as amarguras das obrigações de cada um?
Ele não se furtava a fazer os serviços de casa, mas a sensação da escravidão era o que o agoniava.
Em pleno sábado, quando pensava iria poder descansar, era açoitado pela repugnância de sua modesta vontade, pelo descanso que se, não era merecido, julgava, ao menos, natural. Por que não pular este dia e fazer tudo no outro?!
Depois deste casamento, se este passar, outro nunca mais!
Se queres dissecar o homem em seu sentimento para com o sexo oposto, dar-te um casamento, que lhe seja penoso, pesado, sem a leveza dos sonhos, o mais o tempo fará! Favas contadas amigo, favas contadas!

O casamento deveria ser antes de tudo uma celebração eterna da confirmação de um amor concreto, e não um contrato onde cada um tem os seus direitos, deveres e obrigações, e no tempo que restar, se restar, poder-se-á divertir-se um pouco com o sexo ou algum passeio banal. A vida é mais que isso e o amor mais que a vida! Por isso o Amor é sublime e sem ele nada é possível, ou melhor, só com ele tudo é possível, pois sem ele, a amargura dos desencantos da vida, torna-nos insensíveis demais para amar e ser amado; que as coisas tornam-se toscas e cansativas, e vai aos pouco nos cegando a alma até não nos reconhecermos mais. Portanto, salvem o Amor na vida de vocês! E o resguarde o mais que puderem, pois ele anda bem sumido de tudo, pois a carga do dia-a-dia, que com ele se salvaria, antes o afoga e o sepulta, fazendo de nossas relações, verdadeiros cemitérios, nos assombrando com o espectro de uma desesperança medonha e atormentada, nos cansando um do outro, até a inevitável separação.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

RELATOS

RELATOS

Primeiro poema do ano de 2009 a Henrique Enzo


São mais de 15 anos
Um longo tempo para quem não sabe esperar
Essa é a história da minha vida
Luto comigo mesmo sem sair do lugar
Eu continuo vivo
Continuo aqui aonde nunca estive
Quem sabe algum dia
Vou escrever como você
E te remeterei cartas imensas
Com poemas à sua altura
E deixarei por fim de enviar a mim mesmo
Relatos
Farrapos de minha própria vida
Eu caminho pela cidade
Perdido entre frases que sussurro ao vento
Que invento e desinvento pensando em ti
E quando chego em casa tarde e deito
Nunca há ninguém por perto
E são tantos corpos
Que vejo mutilados
Que nunca há mesmo ninguém ao meu lado
Esta é mais uma página da minha vida
Mais uma página da minha vida
Que vai esquecida...
Minhas canções eu as faço para mim mesmo
Quando não tenho vontade de dormir
Quando não tenho sorte
Quando não tenho coragem
Eu que tenho toda a coragem do mundo!
Quando encaro de frente o abismo da morte
De uma vida assim
Eu continuo aqui! Eu continuo aqui !
Aonde nunca estive !
Relatos de uma vida triste
e por um triz
Por onde foi que estive ?!
O que foi que eu fiz?!

domingo, 4 de janeiro de 2009

CLUB DO ROCK !


Fomos chegando aos poucos para passagem do som, nunca havíamos tocado ali, naquele palco imenso e inacreditável, um sonho para qualquer um de nós! A casa era famosa e a magia não podia ser outra, o cheiro de glicerina da caixa de fumaça estava sendo testada e acho que aquela primeira impressão é que ficará para sempre como uma tarde que prometia. O primeiro a chegar depois de mim, foi o Neo com sua inseparável esposa e produtora, a felicidade morava em seus olhos, ou talvez fosse o reflexo dos meus, não sei, o fato é que não nos contínhamos de tanta ansiedade, logo depois chegaram os habitantes com o Ronan, vocalista do Móbile Drink, daí para frente não lembro de mais nada, de um minuto para o outro, o backstage estava lotado de nós, me lembro do Zoé me dando um forte abraço, como quem dissesse que por fim, havíamos conseguido! O fato é que todos estávamos mais que convencidos que não ficaria pedra sobre pedra! O Ricardo Loureiro entrevistava todo mundo e os meus amigos Antonio Terra, Maurício Hora e o Luís Gama, todos fotógrafos, tramavam algo para nós, eu tinha certeza. Um click aqui, outro ali e os trabalhos haviam começado. Os tambores rufavam sob as baquetas de Jefferson Rodrigues, enquanto Carlos Lucena, baterista da Real Sociedade conversava com o batera dos Marafo´s; Sandro, o seu primeiro vocalista estava na área e iria dá uma palhinha também. Seria uma noite inesquecível de fato!
Chegara a hora! A casa estava enchendo aos poucos, podíamos ouvir o burburinho, o Jules ensaiava sozinho num canto a sua participação, havia drinks demais e gente à beça no camarim, tudo era festa, não dava mais para concentrar, o jeito foi desconcentrar, tomamos todas e deixamos a alegria fluir, o Arnaldinho com sua bandana, dava os últimos ajustes na guitarra, nunca vi tanta mulher bonita e simpática ao mesmo tempo, a começar pelas nossas, a Grazi, a Lú, a Belle e a Elena, até mesmo a minha Maria cuidavam de tudo, com o apoio e a amizade do Abdalla. O Ronan e o Léo eram os mais procurados, alguns jornalistas nos olhavam também com a mesma simpatia, O jefferson dava sua primeira entrevista da noite, luzes, focos, câmera, ação, o calor era quase insuportável. O pessoal do Mané Sagaz não estava completo, mas os que lá estavam, confirmavam presença no palco, nosso querido e aguardado amigo, Sergio Meirelles nos daria por fim, a honra de tocar conosco. Cazé e o Roberto (o primeiríssimo guitar front man da Real Sociedade) já estavam pra lá de Bagdá, ou seja, estavam lindos, sedentos de rock´n´roll e outras milongas a mais, quando alguém gritou lá do fundo: Au-di-ti-va!, era os meninos da banda concentrando ao que daqui responderam: Ha-bi-tan-tes! E nós respondemos Re-al-So-ci-e-da-de! E por aí foi numa espécie nova de lista de chamada! No fim um uníssono, viva o rock´n´roll!!!!

10 minutos para o show! Gritou o Rossini Maltoni, nosso amigo e nosso agora efetivo técnico de som, quase empresário também. Fizemos uma oração com todo mundo abraçado, o bafo de cachaça era forte, mas a fé também! Estávamos todos prontos! Respiramos fundo, como se fôssemos tentar uma cesta no basquete e aguardamos. A música de abertura, pudemos ouvir lá de trás, era Carmina Burana, por sugestão do Arnaldo, tudo às escuras, assobios e gritos vindo da platéia nos deixavam sedentos para começar, estávamos apostos e a cortina iria subir, ou abrir, ou cair, sei lá, não atinava mais para nada. Senhoras e senhores, com vocês: O CLUB DO ROCK!!!!!

Antes das cortinas abrirem por completo, já podíamos ouvir as guitarras apreensivas rasgando tudo que havia pela frente. As Guitarras do Léo de um lado e do Arnaldo do outro, com Pablo do Yellow Plane e o Pablo do Marafos, acompanhados por Euler do Mané e o Marco do Djangos, faziam as guitarras ziguizagear no ar costurando o riff mais famoso do rock´n´roll, só aquela abertura já valeu a noite!Imagina! E ainda havia o naipe de metal e a gaita do Ronaldo Januário que fez um solo espetacular. Na primeira canção o público já estava na mão. De repente pulamos todos juntos do patamar onde ficavam as baterias, percussões e os teclados, Nem Queiroz, Ronan, Neo e Jules, todos empunhando seus microfones num grito só: “I get can´t no!”. Inesquecível! Na segunda parte da música todos estavam no palco como se fosse uma despedida, muito embora fosse apenas a primeira tacada da noite! E com a segunda canção do repertório infinito que estávamos dispostos a tocar naquela noite, a platéia já tinha um bom aperitivo do que seria o resto do show, atacamos com “Roadhouse Blues” do Doors! O Fabrício, o Vítor e o Dando, Habitantes, Marafos e Real Sociedade respectivamente, fizeram uma espécie de terceto com os baixos, um dobro de acordes roucos e fabulosos, que até mesmo eu não acreditava, Ronan puxou a letra e fomos todos atrás! Nessa hora flashes pipocavam de todos os lados, uma rede de TV famosíssima chegara ao local, o que deve ter atraído mais público, que de uma hora para hora super lotou a casa e pronto, eu não via mais nada, parecíamos estar numa catarse absoluta de um sonho que realidade alguma suporta, a canção se estendeu o quanto pode, emendada logo em seguida por duas canções próprias dos Habitantes, eram elas, “Hoje teu coração vai depor contra mim” e “Torres Gêmeas”, foram ovacionados, todo o público cantou junto, era sucesso certo, os caras estavam tão felizes que tive a sensação de que o Jefferson, o batera, que estava descendo o braço lá atrás, batia com lágrimas nos olhos, foi emocionante! O Léo fazia o vocal, ajudado por mim e pelo Neo, que adoramos estas canções, mas aí entraram o Volve e o Jules, dois ex-vocalistas da banda e tivemos de sair, a canção agora era nada mais nada menos que “There is a ligth that never goes out ” dos The Smiths, quer mais?! Ainda tocaram mais uma, “I found That Soul” uma porrada de uma banda pouco conhecida chamada Manic Streets Preaches, foi duca! Depois o Jules voltaria para encantar-nos com uma dos Beatles, “Ticket to ride”, foi o máximo com todo mundo cantando junto. Em seguida o naipe de metal anunciava “Born to be Wild ”, com Neo, que com sua nova banda a Auditiva nos presenteava com uma performance maravilhosa de “Do the Evolution” do Pearl Jam, ainda teríamos com ele, com direito a clip no telão e tudo, a execução de “A velha História” composição própria. No final ele nos chamou: Senhores e senhoras, com vocês a grande Real Sociedade com a sua “A Grande Tempestade”; adoro aquele tilintar dos pratos no início da canção, depois dela, atacamos de “Yara Sexy Blues” com participação inesperada da Mille da banda Burp! Charmosíssima! E mais o Ronaldo Januário que fez uns dos mais belos solos de gaita dentro dessa canção, rock/blues de primeira, aplaudidíssima. Então, uma das músicas mais esperadas do show, deu o seu ar da graça, “Um homem muito esquisito”. Quando foi anunciada, foi uma gritaria só, a casa inteira parecia um caldeirão, ainda mais quando o Léo, vocal do Cabelo Veludo invadiu o palco numa performance impagável e chamou os Djangos que deram mais peso à canção e emendaram com uma sua, “Raiva contra o oba-oba!” Precisa dizer mais alguma coisa?! Minha nossa! Que pauleira!
(Continua..)

CLUB DO ROCK (Continuação...)


Na sequência tocaram Bleffe, Laox, Tapete Red, Diatribe e Paraíso Hotel, numa espécie de Soma Festival. Neo, envergando a camisa do movimento Soma e empolgadíssimo fez participação em quase todas as bandas do naipe. O curioso é que o Nem Queiroz usava a mesma camisa, mas pelo avesso.
De repente tudo ficou às escuras! Quando o pessoal começava a entoar um bis, uma canção do Pink Floyd espalhou-se pelo recinto o que fez a galera delirar, no telão, um documentário, produzido pela Anarco Music do Geraldo, ajudado pelo Théo, sobre nossas vidas, com depoimentos de nossos amigos e em especial do nosso poeta Henrique Enzo, que emocionou a todos, dava o tom da homenagem; teve também, na mesma importância, depoimentos de Antonio Terra, Adriano Farias e até do Dado, guitarrista da Legião Urbana! Foram 20 minutos de pura magia, onde todos ficaram hipnotizados, enquanto isso um set acústico era montado.
A segunda parte do show foi aberta com Nem Queiroz e a Letícia d´Os Letícios declamando “Coktail Party” poema de Mário Quintana, simplesmente maravilhoso. Montamos um set acústico, mas não durou mais que três ou quatro canções, Felipe Sundae introduziu seu órgão na festa e sua banda logo tomava conta da hora, o que deixou petrificada a platéia, seguido do A.U.Í.C.A! Foi a parte progressiva da noite. Lá embaixo, o Duna com o Emílson Borges e mais o Ricardo Loureiro, não paravam de dançar e sorrir, pareciam que estavam meios embriagados, mesmo sabendo que um ou outro ali não são de beber. Do outro lado a Belle, a Elena e a Lú se esbaldavam de igual felicidade, foi quando toda a banda, super ensaiada, atacou com “Por que a gente é assim?” do Barão; “Perfeição” da Legião foi outra que não deixou por menos. Ronan, que estava sumido, combinou com seu baxista e ambos começaram “Break on through”, outra do The Doors, aí o Jules voltou com Pixies, no que a Móbile respondeu com duas canções próprias; a Marafos com seu novo vocalista e mais o Sandro, o seu ex, cantou “Rosas e vinhos” e depois juntos com o Yellow Plane levaram, Led Zeppelin, Creedence; U2 ficou a cargo dos Habitantes, O Anderson do Cave Canem, junto com André, seu percussa, cantaram ambos uma canção do Radiohead chamada “Creep”, me surpreendendo, na sequência levaram Santana e então o Marquinho do Mané Sagaz, com seu chapéu panamá invadiu o palco com seu irmão Bibo e um tamborim, imagina, e ficaram até o fim. De repente apareceram por lá o vocal do Cacto Scream com Jr., seu guitar man, mas não subiram. Logo chegou o Adriano que se juntou a eles e logo sumiram. O show estava acabando, foram mais três músicas: Stairway to Heaven, não podia faltar, The End, que era para ser a última, mas alguém no final puxou novamente Born to be wild e todo mundo sem exceção, numa catarse generalizada e sem precedente gritavam a letra, como se fossem morrer! Foi demais...
Quando acordei, não havia ninguém em casa, que estava toda revirada, parecia que um furacão dormira comigo, tropecei numa garrafa de vodka pela metade, nada estava em seu lugar, até calcinha havia sobre a televisão, o sol estava de rachar, no console, um bilhete dirigido a mim: Fomos à praia, nos encontre lá! Mais tarde nos vemos no show!