domingo, 4 de janeiro de 2009

CLUB DO ROCK !


Fomos chegando aos poucos para passagem do som, nunca havíamos tocado ali, naquele palco imenso e inacreditável, um sonho para qualquer um de nós! A casa era famosa e a magia não podia ser outra, o cheiro de glicerina da caixa de fumaça estava sendo testada e acho que aquela primeira impressão é que ficará para sempre como uma tarde que prometia. O primeiro a chegar depois de mim, foi o Neo com sua inseparável esposa e produtora, a felicidade morava em seus olhos, ou talvez fosse o reflexo dos meus, não sei, o fato é que não nos contínhamos de tanta ansiedade, logo depois chegaram os habitantes com o Ronan, vocalista do Móbile Drink, daí para frente não lembro de mais nada, de um minuto para o outro, o backstage estava lotado de nós, me lembro do Zoé me dando um forte abraço, como quem dissesse que por fim, havíamos conseguido! O fato é que todos estávamos mais que convencidos que não ficaria pedra sobre pedra! O Ricardo Loureiro entrevistava todo mundo e os meus amigos Antonio Terra, Maurício Hora e o Luís Gama, todos fotógrafos, tramavam algo para nós, eu tinha certeza. Um click aqui, outro ali e os trabalhos haviam começado. Os tambores rufavam sob as baquetas de Jefferson Rodrigues, enquanto Carlos Lucena, baterista da Real Sociedade conversava com o batera dos Marafo´s; Sandro, o seu primeiro vocalista estava na área e iria dá uma palhinha também. Seria uma noite inesquecível de fato!
Chegara a hora! A casa estava enchendo aos poucos, podíamos ouvir o burburinho, o Jules ensaiava sozinho num canto a sua participação, havia drinks demais e gente à beça no camarim, tudo era festa, não dava mais para concentrar, o jeito foi desconcentrar, tomamos todas e deixamos a alegria fluir, o Arnaldinho com sua bandana, dava os últimos ajustes na guitarra, nunca vi tanta mulher bonita e simpática ao mesmo tempo, a começar pelas nossas, a Grazi, a Lú, a Belle e a Elena, até mesmo a minha Maria cuidavam de tudo, com o apoio e a amizade do Abdalla. O Ronan e o Léo eram os mais procurados, alguns jornalistas nos olhavam também com a mesma simpatia, O jefferson dava sua primeira entrevista da noite, luzes, focos, câmera, ação, o calor era quase insuportável. O pessoal do Mané Sagaz não estava completo, mas os que lá estavam, confirmavam presença no palco, nosso querido e aguardado amigo, Sergio Meirelles nos daria por fim, a honra de tocar conosco. Cazé e o Roberto (o primeiríssimo guitar front man da Real Sociedade) já estavam pra lá de Bagdá, ou seja, estavam lindos, sedentos de rock´n´roll e outras milongas a mais, quando alguém gritou lá do fundo: Au-di-ti-va!, era os meninos da banda concentrando ao que daqui responderam: Ha-bi-tan-tes! E nós respondemos Re-al-So-ci-e-da-de! E por aí foi numa espécie nova de lista de chamada! No fim um uníssono, viva o rock´n´roll!!!!

10 minutos para o show! Gritou o Rossini Maltoni, nosso amigo e nosso agora efetivo técnico de som, quase empresário também. Fizemos uma oração com todo mundo abraçado, o bafo de cachaça era forte, mas a fé também! Estávamos todos prontos! Respiramos fundo, como se fôssemos tentar uma cesta no basquete e aguardamos. A música de abertura, pudemos ouvir lá de trás, era Carmina Burana, por sugestão do Arnaldo, tudo às escuras, assobios e gritos vindo da platéia nos deixavam sedentos para começar, estávamos apostos e a cortina iria subir, ou abrir, ou cair, sei lá, não atinava mais para nada. Senhoras e senhores, com vocês: O CLUB DO ROCK!!!!!

Antes das cortinas abrirem por completo, já podíamos ouvir as guitarras apreensivas rasgando tudo que havia pela frente. As Guitarras do Léo de um lado e do Arnaldo do outro, com Pablo do Yellow Plane e o Pablo do Marafos, acompanhados por Euler do Mané e o Marco do Djangos, faziam as guitarras ziguizagear no ar costurando o riff mais famoso do rock´n´roll, só aquela abertura já valeu a noite!Imagina! E ainda havia o naipe de metal e a gaita do Ronaldo Januário que fez um solo espetacular. Na primeira canção o público já estava na mão. De repente pulamos todos juntos do patamar onde ficavam as baterias, percussões e os teclados, Nem Queiroz, Ronan, Neo e Jules, todos empunhando seus microfones num grito só: “I get can´t no!”. Inesquecível! Na segunda parte da música todos estavam no palco como se fosse uma despedida, muito embora fosse apenas a primeira tacada da noite! E com a segunda canção do repertório infinito que estávamos dispostos a tocar naquela noite, a platéia já tinha um bom aperitivo do que seria o resto do show, atacamos com “Roadhouse Blues” do Doors! O Fabrício, o Vítor e o Dando, Habitantes, Marafos e Real Sociedade respectivamente, fizeram uma espécie de terceto com os baixos, um dobro de acordes roucos e fabulosos, que até mesmo eu não acreditava, Ronan puxou a letra e fomos todos atrás! Nessa hora flashes pipocavam de todos os lados, uma rede de TV famosíssima chegara ao local, o que deve ter atraído mais público, que de uma hora para hora super lotou a casa e pronto, eu não via mais nada, parecíamos estar numa catarse absoluta de um sonho que realidade alguma suporta, a canção se estendeu o quanto pode, emendada logo em seguida por duas canções próprias dos Habitantes, eram elas, “Hoje teu coração vai depor contra mim” e “Torres Gêmeas”, foram ovacionados, todo o público cantou junto, era sucesso certo, os caras estavam tão felizes que tive a sensação de que o Jefferson, o batera, que estava descendo o braço lá atrás, batia com lágrimas nos olhos, foi emocionante! O Léo fazia o vocal, ajudado por mim e pelo Neo, que adoramos estas canções, mas aí entraram o Volve e o Jules, dois ex-vocalistas da banda e tivemos de sair, a canção agora era nada mais nada menos que “There is a ligth that never goes out ” dos The Smiths, quer mais?! Ainda tocaram mais uma, “I found That Soul” uma porrada de uma banda pouco conhecida chamada Manic Streets Preaches, foi duca! Depois o Jules voltaria para encantar-nos com uma dos Beatles, “Ticket to ride”, foi o máximo com todo mundo cantando junto. Em seguida o naipe de metal anunciava “Born to be Wild ”, com Neo, que com sua nova banda a Auditiva nos presenteava com uma performance maravilhosa de “Do the Evolution” do Pearl Jam, ainda teríamos com ele, com direito a clip no telão e tudo, a execução de “A velha História” composição própria. No final ele nos chamou: Senhores e senhoras, com vocês a grande Real Sociedade com a sua “A Grande Tempestade”; adoro aquele tilintar dos pratos no início da canção, depois dela, atacamos de “Yara Sexy Blues” com participação inesperada da Mille da banda Burp! Charmosíssima! E mais o Ronaldo Januário que fez uns dos mais belos solos de gaita dentro dessa canção, rock/blues de primeira, aplaudidíssima. Então, uma das músicas mais esperadas do show, deu o seu ar da graça, “Um homem muito esquisito”. Quando foi anunciada, foi uma gritaria só, a casa inteira parecia um caldeirão, ainda mais quando o Léo, vocal do Cabelo Veludo invadiu o palco numa performance impagável e chamou os Djangos que deram mais peso à canção e emendaram com uma sua, “Raiva contra o oba-oba!” Precisa dizer mais alguma coisa?! Minha nossa! Que pauleira!
(Continua..)

CLUB DO ROCK (Continuação...)


Na sequência tocaram Bleffe, Laox, Tapete Red, Diatribe e Paraíso Hotel, numa espécie de Soma Festival. Neo, envergando a camisa do movimento Soma e empolgadíssimo fez participação em quase todas as bandas do naipe. O curioso é que o Nem Queiroz usava a mesma camisa, mas pelo avesso.
De repente tudo ficou às escuras! Quando o pessoal começava a entoar um bis, uma canção do Pink Floyd espalhou-se pelo recinto o que fez a galera delirar, no telão, um documentário, produzido pela Anarco Music do Geraldo, ajudado pelo Théo, sobre nossas vidas, com depoimentos de nossos amigos e em especial do nosso poeta Henrique Enzo, que emocionou a todos, dava o tom da homenagem; teve também, na mesma importância, depoimentos de Antonio Terra, Adriano Farias e até do Dado, guitarrista da Legião Urbana! Foram 20 minutos de pura magia, onde todos ficaram hipnotizados, enquanto isso um set acústico era montado.
A segunda parte do show foi aberta com Nem Queiroz e a Letícia d´Os Letícios declamando “Coktail Party” poema de Mário Quintana, simplesmente maravilhoso. Montamos um set acústico, mas não durou mais que três ou quatro canções, Felipe Sundae introduziu seu órgão na festa e sua banda logo tomava conta da hora, o que deixou petrificada a platéia, seguido do A.U.Í.C.A! Foi a parte progressiva da noite. Lá embaixo, o Duna com o Emílson Borges e mais o Ricardo Loureiro, não paravam de dançar e sorrir, pareciam que estavam meios embriagados, mesmo sabendo que um ou outro ali não são de beber. Do outro lado a Belle, a Elena e a Lú se esbaldavam de igual felicidade, foi quando toda a banda, super ensaiada, atacou com “Por que a gente é assim?” do Barão; “Perfeição” da Legião foi outra que não deixou por menos. Ronan, que estava sumido, combinou com seu baxista e ambos começaram “Break on through”, outra do The Doors, aí o Jules voltou com Pixies, no que a Móbile respondeu com duas canções próprias; a Marafos com seu novo vocalista e mais o Sandro, o seu ex, cantou “Rosas e vinhos” e depois juntos com o Yellow Plane levaram, Led Zeppelin, Creedence; U2 ficou a cargo dos Habitantes, O Anderson do Cave Canem, junto com André, seu percussa, cantaram ambos uma canção do Radiohead chamada “Creep”, me surpreendendo, na sequência levaram Santana e então o Marquinho do Mané Sagaz, com seu chapéu panamá invadiu o palco com seu irmão Bibo e um tamborim, imagina, e ficaram até o fim. De repente apareceram por lá o vocal do Cacto Scream com Jr., seu guitar man, mas não subiram. Logo chegou o Adriano que se juntou a eles e logo sumiram. O show estava acabando, foram mais três músicas: Stairway to Heaven, não podia faltar, The End, que era para ser a última, mas alguém no final puxou novamente Born to be wild e todo mundo sem exceção, numa catarse generalizada e sem precedente gritavam a letra, como se fossem morrer! Foi demais...
Quando acordei, não havia ninguém em casa, que estava toda revirada, parecia que um furacão dormira comigo, tropecei numa garrafa de vodka pela metade, nada estava em seu lugar, até calcinha havia sobre a televisão, o sol estava de rachar, no console, um bilhete dirigido a mim: Fomos à praia, nos encontre lá! Mais tarde nos vemos no show!