domingo, 11 de janeiro de 2009

FAVAS CONTADAS


O dia seguinte àquela noitada indiscutivelmente agradável com os amigos, lá estava ele, de “rabo para o alto“, esfregando o chão do banheiro. Da mesma forma como achava plausível um descanso depois de uma semana inteira de trabalho, também não pensava ser justo que sua mulher fizesse tudo sozinha, mas o fato é que não precisava ser daquele jeito, tão polido e urgente, nisso é que ele se contorcia. Se não o fizesse seria como se fosse o fim, e fazer era o fim!
Quer secar o homem por dentro é dar-lhe um casamento. Quer um homem morto, é fatigá-lo até o fim com este mesmo casamento.
Por que não podemos viver em paz na comunhão e na alegria de dizer o que se pensa e se sente, com a harmonia que a relação não deveria jamais perder? Por que não sabemos reclamar com graciosidade as amarguras das obrigações de cada um?
Ele não se furtava a fazer os serviços de casa, mas a sensação da escravidão era o que o agoniava.
Em pleno sábado, quando pensava iria poder descansar, era açoitado pela repugnância de sua modesta vontade, pelo descanso que se, não era merecido, julgava, ao menos, natural. Por que não pular este dia e fazer tudo no outro?!
Depois deste casamento, se este passar, outro nunca mais!
Se queres dissecar o homem em seu sentimento para com o sexo oposto, dar-te um casamento, que lhe seja penoso, pesado, sem a leveza dos sonhos, o mais o tempo fará! Favas contadas amigo, favas contadas!

O casamento deveria ser antes de tudo uma celebração eterna da confirmação de um amor concreto, e não um contrato onde cada um tem os seus direitos, deveres e obrigações, e no tempo que restar, se restar, poder-se-á divertir-se um pouco com o sexo ou algum passeio banal. A vida é mais que isso e o amor mais que a vida! Por isso o Amor é sublime e sem ele nada é possível, ou melhor, só com ele tudo é possível, pois sem ele, a amargura dos desencantos da vida, torna-nos insensíveis demais para amar e ser amado; que as coisas tornam-se toscas e cansativas, e vai aos pouco nos cegando a alma até não nos reconhecermos mais. Portanto, salvem o Amor na vida de vocês! E o resguarde o mais que puderem, pois ele anda bem sumido de tudo, pois a carga do dia-a-dia, que com ele se salvaria, antes o afoga e o sepulta, fazendo de nossas relações, verdadeiros cemitérios, nos assombrando com o espectro de uma desesperança medonha e atormentada, nos cansando um do outro, até a inevitável separação.