terça-feira, 2 de setembro de 2008

AS CRIANÇAS E A VIOLÊNCIA !


INOCÊNCIA PERDIDA

"A violência é tão fascinante
E nossas vidas são tão normais... " (Renato Russo)



Fiquei abismado com a desenvoltura verbal/coloquial de uma menina de 13 anos de idade narrando os fatos de um assassinato cometido entre gangs. Ela vinha da escola, conversando com outra amiguinha, comentando sobre o assunto, como se falasse de um filme de ação, a tão estúpida e cruel realidade. Fazia seus comentários com uma envergadura de um adulto, com uma clareza sem igual, com uma natureza mórbida dos que não sabem no que se transformaram, numa normalidade assustadora. Como era natural para eles o fato ocorrido, julgava saber mais que as fofocas, imaginava como tinha acontecido, dava detalhes do número dos tiros disparados, o local do ocorrido e onde foi achado o corpo da vítima (um garoto, apenas), e não demonstrava emoção alguma ao comentar sobre a idade da vítima, que deveria ter no máximo 16 anos, dizia ela, emendando que agora o “bicho iria pegar”, porque o pai do rapaz era da pá virada (palavras dela) e que pertencia a uma facção criminosa ( O que não era verdade), dizia tudo com uma devoção, uma naturalidade e uma inocência invertida de quem chupava uma bala Juquinha. E ela era tão nova e tinha uma inocência bonita ainda nos olhos e no modo de dizer, mesmo que coisas tão estapafúrdias, das meninas que começam a desabrochar e já tão jovem apodrecer. Ela não é sozinha, tem família, estuda em colégio particular e não é dada a farras (eu a conheço de vista), mas como estava por dentro das coisas e como sabia falar sobre um assunto que normalmente era para assustar, causar medo, angústia, estranheza, mas não, além do prazer de se mostrar à altura da realidade e da maturidade que todo adolescente faz questão de demonstrar que tem, mesmo não tendo, de saber das coisas, ou pensar que sabe (natural da idade), havia um prazer além do descrito, existia também uma leve sensação de que tanto ela, quanto suas amiguinhas, pareciam carregar em seus semblantes, uma estranha atração pela violência.

Parece que questões como esta lhes proporcionam alguma credibilidade para com a sociedade, para com os outros. É o que costumo chamar: -"O mecanismo do mal!". Não sabem as nossas crianças, que a sua inocência perdida poderia ser a chave para uma antiga questão, mas o problema não é mais a chave nem a fechadura, mas a dura realidade de se constatar que as nossas crianças crescem para um lado errado, e o que é pior, parecem que gostam. O que elas não gostam é de ser o que são: Nossas eternas, adoráveis e inocentes crianças! Criança? Eu?!