quinta-feira, 18 de setembro de 2008

NA LATA DO LIXO - Cinema brasileiro, um novo conceito!

CARTA A CARLOS DIEGUES
sobre matéria no Segundo Caderno do Globo de 28.08.08
só hoje encontrada (na lata do lixo em 17.09.08)


Sr, Carlos Diegues, antes de mais nada posso dizer que o admiro e que portanto, já de prima peço desculpas por alguma inconveniência que possa estar causando. Apenas fala aqui um simples, um réles, mas um faminto espectador da sua arte. Eu também AMO cinema!
Pois bem, Sr. Carlos, estava aqui pensando sobre seu manifesto e pensei que talvez tivesse, em alguma medida, resposta para sua indagação. E não é de hoje que penso e observo sobre esta questão.
Há muito tempo que também reparo “as mortes” (das quais o Sr. se refere), do nosso querido cinema, e como exímio expectador e amante da sétima arte que sou, vivo me acostumando com essa paz incômoda que só um velório pode ter.
Não é de hoje que percebo o mecanismo da entre-safra entre bons e maus filmes nacionais a que somos expostos, e o que consigo captar à respeito, é que toda vez quando começamos a engrenar, algo logo e sempre emperra e voltamos à estaca zero; quando começamos a conquistar público e crítica há uma reviravolta geral e vamos em queda livre a cair pelas tabelas. Até aqui, nada que qualquer um não saiba, e não é que eu saiba mais que os outros, muito pelo contrário, é apenas instinto voraz e aguçado pelo longo tempo de filmes que assisto desde criança (tenho hoje 41).
O que noto por fim e de fato, é que diretores alternativos com seus filmes de baixa renda mas criativos no âmago, aparecem de quando em quando, com enredos e fotografias bem interessantes e que de quebra ainda nos ofertam a descoberta de novos atores e atrizes que são verdadeiras descobertas para nossas mentes e retinas já tão fatigadas com o velho, que penso o nosso cinema não é tão ruim assim.
O que não foge a minha percepção é que toda vez que isto ocorre ( Um boom no cinema nacional), abrem-se as cortinas e os cofres de incentivos fiscais, através de leis, que à princípio deveriam fomentar ainda mais a cena, mas que infelizmente não conseguem o que a (boa) intenção pretendia. O tiro sai pela culatra e caímos outra vez em desgraça!
É quando volta à cena, os velhos personagens de sempre, que até então, não sei porque se viam ausentes, os mesmos produtores e diretores e atores televisivos de sempre, alguns que se aventuram a dirigir até e diretores de TV que também se aventuram a atuar(estes mais que àqueles), deixando a telinha para encarar a telona com o maior entusiasmo, prática incentivada pela facilitação de patrocínios do qual suspeito que para estes parece ser mais fácil que para outros, porque toda vez que isso acontece, chove sobre nós todo tipo de produção, fervorosas parcerias cheias de emoções, só que baratas, comédias telesivas demais e de assuntos vazios, entretenimentos corriqueiros, que numa sessão da tarde seriam perfeitos. E os novos diretores e seus ótimos filmes voltam ao ostracismo e ao anonimato, perdido de nós, dando a vez novamente ao primeiro escalão da cultura sempre vigente nesse país. Ora, bolas, Sr. Diegues, de pouco importa termos centenas de produções super bem feitas e coisa e tal, a pleno vapor, se a qualidade dos textos e das estórias e até mesmo da direção não são mais as mesmas que acabamos de descobrir, se não há mais qualidade, se esta caiu. Nosso cinema sempre foi capenga, todos sabem, mas toda vez que começamos a dar uma guinada e a colher bons frutos, voltam os vampiros cheios de boas intenções, mas com pouquíssimas e novas idéias criativas para ficar se remoendo, se contorcendo (torcendo apenas para que seus filminhos dêem lucros) reclamando que o nosso cinema é vítima disso ou daquilo, dos preconceitos de sempre. Não, acho que definitivamente, não é nada disso. Apenas o público não é idiota. Por que haveremos de bater palmas para a seleção brasileira se esta anda mal das pernas? Só porque somos brasileiros?! É preciso que se saiba e que se grite, que com o que temos hoje não nos agrada. Só assim talvez, poderemos mudar alguma coisa. Será que será preciso dizer que é através do descontentamento das coisas que repensamos nossos hábitos, conceitos e valores?! Há filmes nacionais que são saborosos (principalmente os chamados alternativos e não os de circuitão) , mas há outros que nem de graça valem apenas serem vistos. Isto é uma realidade em qualquer canto do mundo, no nosso caso, infelizmente, parece que temos que conviver com uma gama maior de filmes ruins, só isso.
Basta olharmos para as performances de alguns filmes nacionais que são vistos com gosto até pelo povão, bilheterias que deram certo dentro da nossa realidade, é claro.
Acho também que não se trata de preconceitos, de ser filme nacional ou não; penso que antes de mais nada trata-se de sensibilidade e de bom gosto e talento também. Quando se reclama que o público brasileiro é injusto com o seu cinema, que não o prestigia, basta olhar o ibope da TV, o povo adora ver filmes e os assistem até tarde da noite, e com gosto, mesmo tendo de trabalhar no dia seguinte. Então das duas...as duas! Ou não há respeito para com ele, o público, para com o seu intelecto, para com sua inteligência e o seu bolso(e ainda faltou falar sobre esse pormenor), ou temos aqui uma grande inverdade. Mais uma vez repito, nós, o público, ADORAMOS CINEMA! Basta que se faça bons filmes!

P.S. Cinema a 46 reais?! Putz! Onde eles pensam que estão?! Meu Deus do céu!

A BARRIGA


Eu estava ali, tranqüilo, me sentindo bem comigo mesmo, alegre até! De repente meus olhos esbarraram com a indesejada visão! Ela estava lá, no espelho, quieta, mas presente; angustiosa de tão perto que nem notei, crescendo em silêncio, me acompanhando para tudo quanto é lugar que eu fosse e eu nem percebia, de noite e de dia, o tempo inteiro, lá estava ela, no perfil externo, à mostra para vistas alheias, que decerto a notavam, mesmo que de soslaio, e que de mais certo ainda deveriam fazer um ou outro comentário sobre a minha integridade física ameaçada de pilhérias precoces. Estava ela lá, a deformar o meu corpo comportado e a afastar elogios. Quando me deparei com ela, tão despretensiosa e preponderante em mim, confesso, me causou espanto e alguma indignação, eu não a convidei! O que ela está fazendo ali?! Quis dissolvê-la num contra suspiro que quase me causou taquicardia, mas não teve jeito, disfarcei mais uma vez como pude, porém por pouco tempo, o fôlego não foi suficiente e fomos prontamente vencidos no instante seguinte.
Foi penoso, quase doloroso, a constatação, mas o fato é que ela se instalou tão confortavelmente em mim que penso que ela não existe com tanta veemência assim; contudo, quando a vejo, o desespero é inevitável. Erva daninha! Queria que sumisse. Mas dizem as más línguas, que quando ela chega, ela chega para grudar, digo, ficar; que quando ela vem, é justamente quando não temos mais forças para lutar contra essa indesejável hóspede, e que por uma questão ínfima de tempo, logo haveremos de suportá-la e tão logo saberemos também, conviver em paz para com ela, a barriga que ninguém quer!

CHUVA FINA

CHUVA FINA


É madrugada ainda
A chuva fina
Na contra-luz
Cai mansinha
Do poste
Sobre as pessoas sozinhas
Aos montes
Que já transitam
Como podem

Sob a chuva fina
Que castiga os pobres
Que trabalham
Por um tosco salário
E o responsável dever
Incumbido
De não deixar
Nada os deter

Assim avançam
Sob a chuva fina que cai
Na madrugada triste
Que vai
Dentro da escuridão
Castigá-los um pouco mais
Sem nenhuma distinção

Os trabalhadores são todos iguais
Que diferença faz
Se faz frio
Ou se não chove mais

Sob a chuva que cai
E que agora não é pouca
Repousa o sonho do patrão
Que não perdoa
E que à toa ri
Da pessoa boa que o outro é
Trabalhadores que nunca enjoam
De obedecer

São ainda 4 da manhã...

PESSOAS ESTRANHAS

PESSOAS ESTRANHAS


Em que condições nossas vidas
Ainda podem se cruzar?!
Ei, você, pessoa que eu nem conheço
Ainda
Em que esquina dessa vida
A gente ainda pode se encontrar?

Ei, você!
Pessoa distinta
Quando será que pinta
Entre nós
Um café, um affair, uma transa, um trago
Um bate papo, uma finta

Ei, você
Menina bonita
Aonde foi que nos esbarramos
Quando foi que nos entre olhamos
E não nos falamos
Pelo simples fato de não nos conhecermos

Muito prazer!
Prazeres à ermo!

Mesmo que a gente não venha a se conhecer
Pode crer
Que eu já gosto de você
Eu já gosto de você !
Eu já gosto de você!

Muito prazer! Muito prazer!

Ei, vocês!
Pessoas estranhas