quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A BARRIGA


Eu estava ali, tranqüilo, me sentindo bem comigo mesmo, alegre até! De repente meus olhos esbarraram com a indesejada visão! Ela estava lá, no espelho, quieta, mas presente; angustiosa de tão perto que nem notei, crescendo em silêncio, me acompanhando para tudo quanto é lugar que eu fosse e eu nem percebia, de noite e de dia, o tempo inteiro, lá estava ela, no perfil externo, à mostra para vistas alheias, que decerto a notavam, mesmo que de soslaio, e que de mais certo ainda deveriam fazer um ou outro comentário sobre a minha integridade física ameaçada de pilhérias precoces. Estava ela lá, a deformar o meu corpo comportado e a afastar elogios. Quando me deparei com ela, tão despretensiosa e preponderante em mim, confesso, me causou espanto e alguma indignação, eu não a convidei! O que ela está fazendo ali?! Quis dissolvê-la num contra suspiro que quase me causou taquicardia, mas não teve jeito, disfarcei mais uma vez como pude, porém por pouco tempo, o fôlego não foi suficiente e fomos prontamente vencidos no instante seguinte.
Foi penoso, quase doloroso, a constatação, mas o fato é que ela se instalou tão confortavelmente em mim que penso que ela não existe com tanta veemência assim; contudo, quando a vejo, o desespero é inevitável. Erva daninha! Queria que sumisse. Mas dizem as más línguas, que quando ela chega, ela chega para grudar, digo, ficar; que quando ela vem, é justamente quando não temos mais forças para lutar contra essa indesejável hóspede, e que por uma questão ínfima de tempo, logo haveremos de suportá-la e tão logo saberemos também, conviver em paz para com ela, a barriga que ninguém quer!

Nenhum comentário:

Postar um comentário