terça-feira, 23 de setembro de 2008

POR FORA DO ALAMBRADO


Passando agora por fora do alambrado
Ouvindo os gritos dos meninos
Correndo, berrando, aos brados
Que outrora eram meus...

- Passa a bola!
- Corre! Corre!
- Chuta agora!
- É Gooolll!!!!!

Era a tarde toda
Quase a vida inteira
Aquela mesma brincadeira!
A corriqueira correria de todo santo dia
O que eu queria mesmo ser
Era jogador de futebol!

Agora que eu passo pelo lado de fora do alambrado
Cansado, apressado, afoito para o trabalho
Que não tem nada a ver para com aquilo que eu nasci para ser
É que me recordo bem na hora
Agora vendo de fora
Todos aqueles moleques – MEUS SPECTROS!
Correndo atrás da bola como outrora eu fazia
Veio-me bater esta doce nostalgia
Até com o cheiro do gramado
Aqui, pelo lado de fora do alambrado
Que agora me atordoa e me aparta do que sou
Que me atém para onde eu vou
Nem sei mais para onde eu ia

"A gente jogava bola todo dia!"

(...)
A bola alçada na área
Para o cabeceio para o gol vazio
Um chutando para o outro, o corpo franzino e pronto
Era o Maracanã no seu melhor feitio
Toda torcida estava lá
Para a gente correr para a galera
Se esbaldar e se abraçar pela alma
Emoção em profusão
E num instante já tinha gente aos montes
Juntando para ‘armar’ o futebol
Quantos dessem na linha e um infeliz no gol
Ninguém gostava de ‘agarrar’!
E bola pra frente!

Vamos partir para dentro!
1, 2, ou 3 tentos
A outra é de quem chegar primeiro...
Ah, mas quanto tempo!
(...)

Foram os gritos daqueles meninos perdidos
Que me despertou para isso

O correr da bola
Fez correr dos meus olhos
Uma lágrima invisível
Do tempo em que eu era imbatível
E feliz como ninguém!

O menino chutou a bola
A bola correu, correu, correu...
E só parou nos pés meus
Olhei de volta
E todos os meus amigos estavam lá, a postos!
Aguardando o cruzamento
Ajeitei-me
Dei alguns passos para trás
E corri feito um menino em direção a ela
A bola eterna!
Num delírio instantâneo, infalível e bom
Um deles mergulhou num peixinho fenomenal
E de cabeça fez o mais belo de todos os gols
De um tempo que não existe mais...

Um comentário:

  1. Essa crônica faz-me lembrar de uma história muito hilária: Perdi minha primeira comunhão por causa do futebol.
    Naquele tempo, tinha mais ou menos 11 anos, um domingo de sol brilhante, minha mãe disse que eu não tinha feito o catecismo mas que eu podia, com fé, ir à Igreja de manhã, me confessar com o padre e aproveitar a companhia de meus dois amigos, Juba e Gilva e de sua mãe para comungar.Era o dia da "formatura" deles e eu ria deles o tempo inteiro durante nosso trajeto a pé sem que eles percebessem, porque os dois estavam vestidos de branco e de asas nas costas.
    Pensei: "ainda bem que não tive que colocar essa roupa ridícula."
    Chegando lá, fiz todos os mandamentos orientados por minha mãe, mas aquela cerimônia lenta e monótona me fazia ficar impaciente. Lembrei que era domingo e que próximo dali tinha um grande campo de futebol com vários times uniformizados que disputavam partidas emocionantes.
    Coloquei-me à frente de Dona Marilda e perguntei:
    _ Tia, a senhora acha que vai demorar muito?
    _ Filho, vai demorar um pouco.
    _ Então, vou aqui fora e já volto, tá?
    _ Mas não demore, filho!!
    _ Tá bom, tia.

    Fui só pela primeira vez àquele campo, porque todas as vezes ía acompanhado de papai e mamãe.

    Era o máximo à beira do alambrado ver aqueles times disputando a bola como numa partida oficial de futebol.
    Zico já era meu ídolo e o imaginava ali marcando todos aqueles gols.
    Estava em estado de êxtase e dono de mim naquele momento.
    Quando percebi, já tinha passado muito tempo. Voltei correndo pra igreja.
    Quando cheguei encontrei com Dona Marilda.
    _ Filho onde você estava? Te procurei o tempo inteiro. A missa já acabou!!
    _ Iiihhh, minha mãe va falar tanto!!
    _ Agora não tem jeito a gente vai ter que voltar pra casa.
    Voltamos pra casa e eu não falava uma palavra só pensando o que eu iria dizer lá em casa.
    Foi a vez deles rirem de mim. Fui muito zoado!
    Mas na minha cabeça só passavam as imagens da bola entre os pés daqueles ótimos jogadores. Queria ser como eles.
    Chegamos!
    Ai, meu Deus!! Minha mãe...
    Sabendo do acontecido o comentário dela foi um dos melhores que já ouvi.
    _ Você não tem jeito mesmo. Perder a comunhão por causa de uma bola!!!?
    Fiquei calado esperando a segunda parte da bronca.
    _ Mais tarde a gente vai à missa das 5 e você toma a hóstia e acaba com isso de uma vez!!
    Ufa, Deus me livrou...
    Fui pro chuveiro tomar meu banho. Depois do futebol!!

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