sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ESTADO DE PUTREFAÇÃO - Cracolândia - Zumbilândia


Mais de cem pessoas na fila, mas não era uma fila normal, qualquer, era cara na parede, pés afastados, mãos para trás. A polícia chegara de supetão, ninguém esperava e um quarteirão inteiro de drogados, traficantes, mulheres e até crianças foram surpreendidos, todos envolvidos com entorpecentes, viciados em cocaína e crack, a droga da hora. Vendo na televisão, era de espantar, toda a extensão de uma rua encostada num enorme muro que fazia curva na esquina, aquela fila enorme de pessoas rendidas e sendo algemadas, foram, segundo a reportagem, 50 bandidos presos, meio quilo de droga apreendida, mais dezenas de usuários detidos, transportados num micro ônibus para um centro de saúde, a televisão registrava tudo, as imagens eram fortes e desconcertantes, a sociedade se denegrindo à olhos nus, depoimentos de gente que desistira da vida há tempos, um, flagrado por uma reportagem antiga, naquele mesmo local, dizia de peito aberto que era usuário há quinze anos e que por isso não tinha mais família, não contava mais com ninguém porque, segundo ele próprio, estava morto a quinze anos, quando começou a consumir o crack; noutra reportagem, agora no presente, uma criança de doze anos de idade, com o rosto devidamente embaçado, dava o seu relato que não conseguia mais parar o consumo porque simplesmente seu corpo começava a tremer, ter convulsões de necessidades já fisiológica, analisava um especialista depois, - e se você não tiver dinheiro para comprar a droga, perguntou o repórter – Vou roubar, assaltar, me vender – respondeu o garoto calmamente. Deus do céu, onde estamos vivendo, a que ponto chegamos? São questionamentos que a alma nos faz. Mas o mais grave estava por vir. Depois de recolher todo aquele pessoal para um centro reabilitação, todos maltrapilhos, famintos, sem orientação, todos presos e comportados no pátio da secretária de saúde à espera de atendimento, no fim de quase uma hora, o resultado! Portões foram abertos e todo mundo pode voltar para as ruas, como se nada tivesse acontecido, fizeram algazarra, vibraram como num estádio de futebol, todos voltaram para as ruas de onde vieram e estavam, para voltar a consumir suas drogas diárias, pulando e comemorando o fracasso do Estado; indo embora feito zumbis. de volta para a cracolândia/Zumbilâdia, terra de ninguém. Os detentos foram liberados simplesmente porque não havia ninguém, nenhum operário ou funcionário para atender o contingente viciado, a polícia viu-se então obrigada a jogar fora toda a operação. Prato cheio para a imprensa que quis buscar explicações das autoridades e se surpreender mais uma vez. O chefe da secretária de saúde, através de uma nota repudiava a ação da polícia, que não avisara nada a ele para que pudesse se preparar para receber todo aquele pessoal, o que foi repudiado pelo delegado, chefe da operação, que retaliou a crítica, dizendo que no mínimo o Sr. chefe da secretaria estava sendo no mínimo incoerente e insensato, por repudiar uma operação tão bem feita, que conseguiu prender quase cinqüenta traficantes e aprender quase meio quilo de droga!

Numa sociedade onde nem as autoridades se entendem, que esperança podemos ter?! A sociedade está doente de fato e o câncer já se espalhou para as áreas vitais, estamos em estado desesperador, acumulando tristezas e ódios, inevitavelmente expostos, expomos por conseqüência as nossas crianças e conseqüentemente o futuro de todos, que já é este, onde estamos. Ou seja, não existe mais futuro, o futuro já passou, estamos todos passados!

Nenhum comentário:

Postar um comentário