quarta-feira, 23 de abril de 2008

O DISCO MAGISTRAL DE MILES DAVIS

Nem Queiroz


Gosto de pensar que aquele disco que consegui do Miles Davis, foi a mais sensacional oferta que alguém poderia ter conseguido. Por isso, não ouso voltar àquela loja; tenho receio de encontrar outro exemplar pelo mesmo módico preço fixado e pouco demais para um disco tão histórico e fundamental. Gosto de pensar que ele era o único e que eu tive a grande sorte de encontrá-lo primeiro e antes que todo mundo. O disco em questão: Kind of Blue. Um marco! Desde a primeira vez que ouvi, desde a primeiríssima audição, nunca mais deixei de ouvi-lo em minha alma, em meu âmago, estou apaixonado, ele ficou tatuado em minha mente, fixo em minha lembrança. Em todo lugar que vou, carrego-o comigo, tocando incessante no cd player do meu íntimo, nos meus tímpanos secretos, na minha vitrola, imaginária vitrola que toca e serena não pára nunca. Em todo lugar que vou, aquela música me alcança e dança comigo, sua concepção, sua ação, ela me persegue, não sai da minha história nem da minha memória, muito menos do meu coração. Aquela mágica melodia, única, intuitiva, chuva fina da minha existência ínfima, pecaminosa, luz de um céu que ilumina a minha inspiração com seu clima intimista, com sua própria criação e seu idioma. Foi o único disco, e olha que já ouvi milhares, que nunca deixei de ouvir, e olha que ouvi pouquíssimas vezes, 3 ou 4 talvez. Sabe aquela coisa de que a primeira vez a gente nunca esquece?! Pois comigo aconteceu! E então o levo para onde quer que eu vá ou esteja e gosto tanto, tanto, tanto que sem ele não mais me vejo, ele que agora é o meu sonho ou a trilha de um sonho qualquer mas que é meu, torna irradiado o futuro estrelado que agora eu sei de volta que existe de verdade, pelo menos dentro de mim. Gosto tanto dele que me sinto lisonjeado por ele e por tê-lo, sim, pois ele, o disco magistral de Miles Davis, que ainda tem como parceiros Bill Evans e John Contrane entre outros, (veja só! ) é um tributo à alma humana. A gente se sente tocado por ele, nos dois sentidos, instigado por aquele momento tão sublime, silencioso e sedutor, singular e íntimo de quando ele toca, que nos sentimos divinamente acariciado. Kind of Blue é o sopro do sax e do filtro do ar que respiramos, do sonho e do delírio inalcansável e inexistente antes dele! Um relaxante que protagoniza e agoniza a forma e o conteúdo dos que têm na alma o infinito. Ninguém será o mesmo depois de Kind of Blue...


Um comentário:

  1. Acho que é esta dose de que estou precisando!!!
    Pelo que me pareceu, é como degustar um bom Blue Label apenas mergulhando uns dedos e depois saboreando-os

    Roberto Costa

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