quarta-feira, 23 de abril de 2008

TRANSEUNTES

Nem Queiroz


A mulher de verde passa descontraída, a de azul despercebida, guardas municipais conversam distraídos, enquanto um pivete passa por trás, um bebê me olha fixo enquanto passa por mim, no carrinho que a mãe empurra, enquanto conversa trivialidades com a amiga. A bicicleta quase atropela os transeuntes, enquanto a de entrega, estaciona do outro lado da calçada; namorados apressados entram no coletivo, o motorista se impacienta, um senhor cara de solidão, a passos de tartaruga, atravessa a rua, atrapalhando o trânsito, a velhinha me cumprimenta com os lábios, seu olhar é de outro, meninos juvenis vão na direção da praia, suas vestes denunciam; o trânsito de repente se enrola, pombos sobrevoam as copas das árvores, eles fazem das marquises seu pombal; um homem bem vestido e de óculos, pára, pensa e depois segue, prostitutas param no sinal, prostitutas não param! A menina da loja lê as notícias na banca de jornal,
está na hora do almoço, o chefe sai de mansinho e entra sozinho no restaurante granfino para almoçar, o barulho do trânsito é infernal, trabalhadores da obra, imundos de cinza, fumam cigarros baratos, termina a hora do almoço, o segurança me olha de soslaio, alguém vende bilhete de loteria, ninguém lhe dá atenção
de repente uma cadela velha, com ares de senhora, desfila entre os humanos, uma jovem de seios saltitantes desvia a atenção dos ambulantes, dois homosexuais vestidos iguais riem dos iguais, a executiva fala ao telefone celular, não lembra mais da beleza que tem, um casal de namorados passam serenos com um sorvete para dois, a mendiga anda curvada, uma senhora chique dá altas risadas e apesar de tanta jóia dependura e bem perfumada, quase não é notada, uma gorda da mesma forma bem vestida e elegante solta ares ofegantes, parece apaixonada. A criançada chega do colégio, a avó grita com o neto, o homem barrigudo aponta não sei para onde, o caminhão de lixo faz mais barulho que os outros automóveis, mas não mais que a ambulância que está presa no trânsito.
Todo os automóveis poluem o ar. Um senhor passa cantarolando, o outro discute com a mulher e com a filha, enquanto no ponto do ônibus forma-se uma fila. Um homem jovem pára para medir a pressão, o médico ganha alguns trocados com isso, a praça está cheia de mendigos, a polícia ainda não passou, o gari varre a rua, solitário, uma mulher muito bonita passa pelo outro lado, as buzinam se agitam, um grupo de velhinhos se precipitam no sinal, outro grupo, de turistas os fotografam e dão com a mão, enquanto os carros aguardam e o guarda sorri. De repente um palavrão corta o ar, ninguém se assusta. A louca vai embora e à rua se mistura. A vida prossegue...

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